Ricardo Alves tinha uma CB400. Que trocou por um açougue. Que se tornou um restaurante. E que virou a Griletto, rede de alimentação que fatura R$ 150 milhões
Por Marcelo Cabral
Ricardo José Alves, 41 anos, é um descendente de portugueses que foi praticamente criado dentro da padaria da família, no município de Mairinque, a 70 quilômetros de São Paulo. Ajudava a fazer os pães de manhãzinha, a entregar os produtos de porta em porta em uma Kombi e a fechar o caixa do negócio, à noite. Tomou gosto pelo empreendedorismo. Aos 13 anos, montou um carrinho que vendia cachorro-quente e lanches na saída dos bailinhos da cidade, nos fins de semana. Foi o começo de uma série de pequenos negócios que permitiram a compra de uma moto, logo após tirar a carteira de motorista. “Era uma Honda CB 400 usada, mas impecável”, diz. “No fim dos anos 80, era uma das motos mais cobiçadas.” Alves jamais imaginaria que a cobiçada “cebê” o levaria tão longe: graças a ela, ele se tornou dono de uma das maiores franquias de restaurantes do país, a Griletto, com 150 lojas e R$ 150 milhões de faturamento.
Foi assim. De olho na magrela de Alves, um amigo, dono de um açougue, propôs uma inusitada troca: ficaria com a CB e entregaria seu estabelecimento, que não andava nada bem. Alves topou, meio de supetão, mas logo viu que tinha se metido numa enrascada. “Eu não entendia nada de carne, não sabia diferenciar uma picanha de uma maminha. No primeiro dia após a troca, fiquei olhando as carnes e pensei: ‘acho que fiz besteira’.” Como não dava para desfazer o trato, o jeito foi tocar em frente. Ele estudou o ramo, conversou com funcionários e clientes, fez contato com fornecedores, aplicou seus conhecimentos de padaria e, aos poucos, fez a casa crescer. Nesse processo de ajustar a operação do açougue descobriu que vender para restaurantes era um ótimo negócio: eles compravam mais e pagavam em dia. Em pouco tempo, o ex-dono da CB tinha sete açougues espalhados pelas cidades da região.
Esses bons tempos, porém, foram ficando para trás. Os restaurantes começaram a comprar diretamente dos frigoríficos, imbatíveis em preço, enquanto as donas de casa passaram a preferir a praticidade da carne vendida nos supermercados. Em uma tarde de chuva, quando não entrou um único cliente para comprar carne na loja, ele percebeu que teria de mudar de ramo. O salto para a área de restaurantes foi natural. Mais ainda: se a chuva atrapalhava o movimento, o mais lógico seria montar uma loja em um local coberto. Um shopping center. Alves vendeu os açougues e usou o dinheiro para criar o projeto de um restaurante próprio. Foi o começo da Griletto, que abriu a primeira unidade em 2004, num shopping em Itu (SP).
Depois de muita trabalheira – Alves chegou a rodar 115 mil quilômetros no primeiro ano para encontrar novos pontos –, o número de lojas espalhadas pelo interior paulista chegou a 12. O salto veio em 2008, quando contratou uma consultoria para transformar a marca em franquia. Embalada por novos investidores, a rede cresceu numa velocidade impressionante. Em 2011, eram 60 lojas. Hoje, é mais que o dobro disto.
Mão na massa
Alves estudou só até o ensino médio, mas é do tipo que gosta de aprender na prática. Além dos treinamentos e cursos nas áreas de franquias e direito, ele gosta do dia a dia dos negócios. A mais importante das lições que aprendeu nos últimos anos? Delegar. “Eu era muito centralizador, do tipo que ficava nas lojas das 4 da manhã à meia-noite para controlar tudo”, diz. “Até que percebi que, ou delegava, ou não iria crescer.”
Para 2014, a previsão é atingir as 190 lojas, o que significa inaugurar mais 40 pontos, especialmente em Brasília, Maranhão e Rio de Janeiro. Uma das estratégias é abrir as unidades bem ao lado da principal concorrente, a rede Giraffas. “Acredito que assim as pessoas consigam comparar as redes mais facilmente”, diz. “Quero que vejam nossos diferenciais em qualidade, com preço competitivo.” A rede usa carne in natura na maior parte do cardápio, enquanto o mercado ainda privilegia o produto processado. A Griletto também costuma comprar pontos comerciais em shoppings ainda na planta, para ficar com as melhores localizações. Mais tarde, esses pontos são repassados aos franqueados. Segundo Alves, o “peso” da rede consegue jogar para baixo o preço das luvas exigidas pelas administradoras de shoppings.
Internamente, uma das preocupações é com treinamento. Os recém-contratados passam pela universidade digital para aprender as regras corporativas via internet. Alves afirma ser exigente também em relação ao perfil dos franqueados. Muitos são descartados logo de cara, como no caso do camarada que queria montar uma unidade para a amante. “Não adianta ganhar dinheiro com a taxa de franquia se há o risco de arranhar a imagem da marca”, diz. E não é pouco dinheiro envolvido: somando ponto comercial, luvas, equipamento, taxas e equipe, uma nova unidade custa de R$ 800 mil a R$ 1 milhão. O faturamento médio mensal é de R$ 120 mil, com margem de lucro na faixa dos 15%.
Parece muito? Alves acha que dá pra voar mais alto. A Griletto inaugura nos próximos meses suas primeiras lojas fora de shopping centers. Uma será no novo terminal do aeroporto de Viracopos, em Campinas, e outra na rodoviária do Tietê, na capital paulista. A ideia é que os novos pontos tenham modelos diferenciados, com funcionários bilingues e café da manhã. Lojas de rua também estão na mira. “É uma forma de crescer mais rápido, pois não ficaremos amarrados ao ritmo de abertura de shoppings.” Ah, sim: Alves não teve mais notícias da velha CB e diz que nem pensa em andar novamente de moto. O dia a dia pilotando 150 lojas já produz uma dose suficiente de adrenalina.
Fonte: epocanegocios.globo.com
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