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Trabalhar Nunca Mais!

Perder a noção do tempo, ver sentido em uma atividade e sentir saudade do futuro são alguns sinais de que você está em fluxo com a vida e a carreira.

Por Rogério Chér

Estávamos em 2000, no evento de formatura do meu MBA. O momento coincidia com uma enorme insatisfação quanto à minha carreira. Eu estava infeliz. Por ironia, fui escolhido orador da turma. Em vez de discurso, minha intenção era fazer um desabafo. Optei pela “segurança” do discurso.

Assim que finalizei a minha fala, subiu ao palco o orador seguinte: Comandante Rolim, fundador da TAM e patrono daquela turma. Eu o escutava com interesse, mas sem entusiasmo, até o momento em que da sua voz surgiram as seguintes palavras: “Durante um tempo em minha infância eu associava tudo o que é chato e desgastante ao mundo do trabalho. Foi por este motivo que eu tomei a decisão de nunca trabalhar...”.

Senti a minha cadeira incendiar. Aquilo me descongelou e marcou o início de uma inquietação permanente: como seria possível “nunca trabalhar”? Como me engajar de corpo e alma numa trajetória de vida e carreira capaz de me colocar nesse “outro lugar”?

Os anos seguintes foram rígidos professores, mas muito eficazes para me conduzir a uma consciência mais expandida. Muito além de um “trabalho feliz”, hoje acredito em “trabalho significativo”, que se viabiliza por uma equação com 5 variáveis: 1) vocação: um trabalho que me faça mais consciente para meu chamado, propósito, talentos e pontos fortes; 2) causa: uma atividade que seja mais do que uma ocupação profissional, mas uma dedicação a algo que sinto ser maior do que eu mesmo; 3) contribuição: a clara percepção de que contribuo de modo relevante para esta causa; 4) relações: estar com pessoas com quem posso me relacionar de modo significativo quanto a aprendizagem, cooperação, suporte e colaboração; 5) domínio: exercitar um conjunto de competências e habilidades nas quais me torno cada vez mais eficaz, eficiente, proficiente e crescentemente desafiado.

A consequência desta equação é mergulhar no chamado “flow”, ou fluxo, como ficou conhecida a expressão empregada por Csíkszentmihályi. Estar em fluxo com a vida e com a carreira é uma experiência mais emocional do que mental. E que sentimentos “denunciam” flow em nosso caminho? Aprendi a reconhecer que as atividades que nos colocam em fluxo em geral nos fazem:

1. perder a noção do tempo: quando o tempo se torna irrelevante diante de uma atenção profunda e focada;

2. perder a noção de dualidade: quando você e a atividade se tornam uma coisa só, ou seja, você não sabe onde ela começa e você termina, onde ela termina e você começa;

3. obter feedback no mesmo instante: se alguém te disser “muito bem!” uma voz interna dirá a você, com um tom sereno e saudavelmente arrogante, “eu sei... eu sei...”;

4. sentir que a atividade tem sentido em si própria: se alguém chegar para você e disser “isso tinha mesmo que ser feito!” aquela mesma voz lá dentro de você dirá novamente “eu sei... eu sei...”;

5. ter saudade do futuro: quando você se pergunta “quando eu estarei aqui novamente? quando a vida me chamará aqui de novo?”.

Desse modo, viver autenticamente feliz pode coincidir exatamente com estas duas ideias: trabalho significativo e “flow”. É por encontrá-los em meus caminhos que hoje posso admitir não mais trabalhar. E é isso que desejo a você também: estar em fluxo com sua vida e carreira... para nunca mais trabalhar!


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