Por Vicky Bloch
Já faz tempo que as melhores empresas perceberam que precisam ter um propósito maior do que a última linha do balanço. John Machey e Raj Sisodia, os autores do livro "Capitalismo Consciente", dizem que as organizações devem sempre fazer questionamentos fundamentais como: Por que existimos? Por que precisamos existir? Qual é a contribuição que queremos dar? O mundo fica melhor com a nossa presença? Sentirá nossa falta se deixarmos de existir?
Essa filosofia baseada em uma forma mais complexa de capitalismo, que bate de frente com a teoria do economista Milton Friedman - segundo a qual o único objetivo da empresa é dar lucro -, mostra que o lucro econômico não pode existir a qualquer custo. Ela é baseada em quatro princípios: o propósito (que visa criar valores que vão além do lucro, como desenvolver e engajar as pessoas), a liderança (para valorizar o que há de melhor nos colaboradores), a cultura (que foca a inovação e o bem-estar social para a produtividade) e a orientação (que mantém todos os envolvidos no negócio informados de seus resultados para que estejam engajados no mesmo objetivo).
De acordo com esse conceito, a geração de valor deve se dar, genuinamente, a todos os stakeholders em todas as formas de valor que importam: emocional, social e financeiro, traduzindo-se futuramente em uma vantagem competitiva de longo prazo.
O propósito é o ponto que eu gostaria de destacar neste artigo. Propósito vem antes de missão, de visão, de valores, de estratégia. Diz respeito a algo muito maior: à diferença que você está tentando fazer no mundo. E, nesse sentido, essa discussão reflete o que eu acredito que deva ser o comportamento não apenas das empresas, mas também dos indivíduos dentro e fora das organizações.
Está certo que o propósito de uma empresa deve transcender questões individuais e envolver o coletivo. Porém, acredito que a postura das lideranças é o que vai colocar a locomotiva para funcionar e definir as métricas para o sucesso levando em consideração os impactos para o planeta e para os seres humanos. São as pessoas que fazem uma empresa, e não o contrário. E, indo além, faz sentido também olharmos para dentro de nós mesmos: qual é o nosso maior propósito de vida? O que nos move e qual é a marca que vamos deixar no mundo?
Repito as perguntas de Machey (cofundador da rede de supermercados WholeFoods) e Sisodia (professor do Babson College e cofundador da organização Conscious Capitalism): o mundo fica melhor com a nossa presença? Sentirá nossa falta se deixarmos de existir? Volto à tecla em que estou sempre batendo: a importância da reflexão e do autoconhecimento como impulsionadores do desenvolvimento.
"O propósito é a cola que mantém a empresa unida, o líquido amniótico que nutre de vida a força organizacional", diz um trecho de "Capitalismo Consciente", que poderia muito bem ser adaptado a diversas outras situações fora do universo corporativo.
Por exemplo, estamos em pleno período eleitoral em um país que recentemente clamou, em protestos, por mudanças nos mais variados aspectos: econômicos, sociais, políticos e éticos. Agora me pergunto: será que os candidatos em que votamos realmente estão preocupados com a marca que irão deixar no mundo? Qual é o projeto em que estão vinculados que realmente fará a diferença? Será que seus discursos trazem um significado maior, algo que vem de dentro da alma, ou são puramente eleitorais?
Empresas, governos, famílias. Estamos falando de grupos formados, em sua essência, por pessoas. Se o propósito fornece energia e relevância para as instituições, esse movimento precisa começar de dentro para fora. É possível transformar ambientes hostis e de extrema competitividade em ambientes de desenvolvimento e harmonia? Eu acredito que sim, desde que exista um verdadeiro processo de transformação em prol desse maior propósito.
Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados
Fonte: www.valor.com.br
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