Por Jacilio Saraiva
Manter um negócio em casa já virou rotina para milhões de brasileiros. Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) indicam que o trabalho caseiro já aparece em 48,6% de 3,5 milhões de microempreendedores individuais (MEI). Para especialistas, começar um negócio na própria residência é uma boa opção para cortar custos de operação. Mas é preciso tomar alguns cuidados, como determinar os horários das atividades profissionais e estipular metas de produtividade - como em um escritório tradicional.
Ana Paula Figueiredo trabalha em casa, em Niterói (RJ), desde 2011, quando montou a Bem Casado & Co, de fabricação de doces. "A ideia surgiu da necessidade de estar mais presente na rotina da família", diz. "Também tínhamos uma área ociosa que poderia acolher a demanda da produção."
Para preparar a casa para o negócio, Ana Paula investiu cerca de R$ 4 mil em reformas e equipamentos. Comprou um fogão industrial, mobiliário para secagem e estoque de mercadorias, além de fazer adaptações hidráulicas e na tubulação de gás. Com as obras, um espaço pouco utilizado como salão de jogos se transformou em uma cozinha profissional.
A Bem Casado & Co tem três funcionários e trabalha com vendas on-line. Produz, ao mês, cinco mil docinhos. A maioria das encomendas segue para clientes esporádicos, mas a empresa já conseguiu seis clientes fixos, entre casas de festas e bufês. Este ano, o plano é investir cerca de R$ 20 mil em uma nova reforma, para aumentar a área de produção e embalagem. O valor é 40% maior do que o investimento feito em 2013.
A empresa faturou R$ 50 mil no ano passado e pretende alcançar até R$ 70 mil em 2014. "Vamos investir em divulgação e visitar feiras do segmento de festas." Além de bem-casados, também vai começar a produzir bolos decorados para casamentos.
"O maior desafio é aumentar a produção sem interferir na rotina da casa", diz. Entre as desvantagens de abrigar residência e negócio sobre o mesmo teto, Ana Paula também aponta o trânsito de funcionários em áreas comuns. "É preciso saber separar os dois ambientes. O espaço de trabalho não pode se comunicar com o da família."
Para Tatiana Goldstein, CEO e fundadora do site CasarCasar, com facilidades para noivos, trabalhar no endereço residencial requer disciplina. "Existe uma falsa impressão de que produzir de casa é mais fácil do que fazê-lo de um escritório tradicional", diz. Além da comodidade, a decisão de Tatiana de montar o "home office" surgiu por conta da possibilidade de trabalhar mais horas, inclusive durante as madrugadas, e economizar gastos. Como a empresa também opera na Argentina, ela mantém toda a equipe lá e trabalha sozinha, de São Paulo.
Resultado de um investimento de R$ 3 milhões, o CasarCasar, criado em 2012, em Buenos Aires, já atendeu oito mil noivos na Argentina e 1,5 mil clientes no Brasil, onde opera desde 2013. A expectativa é alcançar R$ 2 milhões de faturamento no primeiro ano no mercado nacional e chegar a toda a América Latina, até 2015.
A empresa saiu do papel quando ela decidiu se casar com um argentino nos EUA e percebeu as dificuldades de encontrar um site que a ajudasse em todos os detalhes da festa. Hoje, a ferramenta tem funções como o gerenciamento de listas de convidados e um assistente de pagamentos que organiza os orçamentos dos noivos.
Para Adriana Sadocco, dona da agência de viagens Drykax Tour desde 2004, o maior problema de não ter um escritório comercial é não encontrar clientes e parceiros comerciais com assiduidade. "Todos os contatos são feitos por telefone e e-mail." A trajetória doméstica da empresária começou quando ela desfez uma sociedade em uma agência "de rua". Como ficou sem o ponto, um amigo ofereceu um escritório para ela continuar o trabalho. Mas, depois, o local passou por uma reforma e Adriana teve de trabalhar em casa, de onde nunca mais saiu. "Fiz um investimento inicial de R$ 3,5 mil."
Sem revelar faturamento, a empresária afirma que todo o investimento é feito em viagens. "Preciso conhecer os roteiros e dar dicas para os clientes", diz. "O segredo é nunca trabalhar de pijamas e ter horário para abrir e fechar."
De acordo com Álvaro Mello, coordenador do Centro de Estudos de Teletrabalho e Alternativas de Trabalho Flexível (Cetel) da Business School São Paulo (BSP), as atividades feitas em casa implicam uma reformulação na organização pessoal, escolha de um local adequado e mudança na rotina doméstica. "Para as pequenas, começar um negócio nesse modelo é opção para o corte de custos", diz. Reduz despesas com transporte e alimentação, aluguel de salas e impostos. Por outro lado, o empresário deve trabalhar com metas de produtividade.
Fonte: valor.com.br
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