O vício de sempre pedir mais dinheiro gera gestão preguiçosa
Por José Roberto Ferro
Não, não se trata de pessoas trabalhando pouco. Significa o prevalecimento de um modo de pensar dominante em muitas organizações que parece evitar a busca de novas e melhores maneiras de fazer as coisas.
Uma empresa tinha a meta de aumentar em 20% as suas vendas. Mas chegou a esse número de uma forma bastante difícil. Enquanto a direção de vendas aceitava assumir essa meta se houvesse uma contrapartida no aumento do orçamento dessa diretoria, a direção geral da empresa queria que esse resultado fosse conquistado com o mesmo orçamento do ano anterior.
Após um ano, a empresa conseguiu ampliar em 20% as suas vendas, apesar do orçamento alocado ser exatamente o mesmo do ano anterior. Esse resultado foi uma surpresa para o diretor de vendas e marketing da empresa. Em princípio, ele achava que seria necessário realizar novos investimentos para se alcançar a meta. Não acreditava que seria possível conquistar esse ganho sem mais recursos humanos, sem mais recursos para novas ações de marketing etc.
Mas, depois, reconheceu que é possível conseguir resultados “apenas” com uma maneira melhor e mais inteligente de trabalhar: por exemplo, mudando processos e eliminando desperdícios. O diretor acredita, porém, que essa “superação” só aconteceu, veja que ironia do destino, devido à inflexibilidade da direção da empresa em aceitar as suas demandas por maiores recursos.
Porém são poucas as empresas que trabalham assim. O modo mais tradicional de gerenciar parece ser a administração preguiçosa, que envolve, quase sempre, a ideia de que, para realizar alguma melhoria, atender a uma nova necessidade ou resolver algum problema, a demanda, via de regra, é: “preciso de mais recursos!”. Quer seja mais dinheiro para investir em novos equipamentos, contratar mais pessoas, comprar mais materiais, construir mais prédios etc.
Essa mentalidade impregnada na maioria das nossas lideranças empresariais acaba gerando mais desperdícios e maiores custos do que o necessário.
Parece que somos programados para pensar assim. Serve para criar proteções e reforçar a crença de que esse é o modo correto de gerenciar.
Mais máquinas e equipamentos, mais estoques, mais espaço, mais gente do que é necessário trazem folgas que ajudam a proteger as lideranças na busca de melhorias e de melhores resultados, porém nem sempre a adição de recursos é a melhor saída.
A administração preguiçosa não está acostumada a pensar em alternativas para a utilização dos recursos existentes. Esse modo de pensar não reconhece sua própria ignorância quanto à possível existência de novas formas de trabalhar e que é possível e necessário aprender sempre na busca de novas maneiras de realizar as atividades e os processos na empresa.
Gostamos de nos proteger com mais recursos. Mas se trata de um autoengano. Ao entrar em uma empresa, frequentemente vemos recursos subutilizados, tais como máquinas paradas, pessoas mal utilizadas realizando atividades desnecessárias, espaços mal utilizados, materiais além do necessário ao mesmo tempo em que há materiais faltantes etc.
Podemos ter mais recursos que, cada vez mais, tenderão a ser mais mal utilizados, o que vai requerer mais recursos ainda, entrando, assim, em um círculo vicioso de alocar cada vez mais recursos e obter cada vez menos resultados.
Para superar a administração preguiçosa, precisamos aprender a desafiar sempre cada situação com questionamentos e desafios sobre a existência de novas formas de organizar e realizar os trabalhos existentes e de como incorporar as novas necessidades. E ouvir a todos os envolvidos para surgir ideias novas e melhores.
A administração preguiçosa é feita por pessoas que parecem não querer pensar, que acham que não precisam aprender coisas novas porque acham que já sabem tudo.
Porém não basta uma posição inflexível da direção da empresa com a definição de metas ambiciosas e arrocho na hora de liberar mais recursos. É preciso estimular a todos a pensar diferente.
Pensar pode dar um pouco de trabalho inicialmente. Mas, na medida em que as empresas vençam a preguiça de pensar, os resultados serão melhores para todos, clientes, acionistas e para os próprios colaboradores que passarão a aprender mais e a utilizar suas capacidades intelectuais mais plenamente.
Fonte: epocanegocios.globo.com
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