Trendwatching apresenta relatório com tendências que vão impactar os consumidores latino americanos. Consumo cidadão e proteção da tecnologia estão entre eles
Por Bruno Garcia
O consumidor latino americano dará maior valor a produtos e serviços que lhe economizem tempo e que ajudem na construção do conhecimento. O consumo associado a projetos cívicos e de cunho social também estará em destaque, bem como ofertas que auxiliem as pessoas a “se protegerem” do excesso de tecnologia dos dias atuais. As tendências são apontadas em um relatório da Trendwatching com cinco movimentos que devem influenciar a maneira como as pessoas consomem e compreendem as marcas em 2014. O relatório “5 Crucial South & Central American Consumer Trends for 2014” indica ainda que o público estará mais aberto a propostas que apresentem a realidade, mesmo que ela seja desconfortável.
Todas as tendências apontadas são um reflexo direto de movimentos que tiveram início nos anos anteriores e se fortaleceram em 2013. O relatório da Trendwatching traz ainda casos de marcas que exemplificam na prática cada um dos cinco pontos abordados, como Easy Taxi, CNA, Burger King, BRMalls e Banco do Brasil.
Cada vez mais, o consumidor está devolvendo as demandas sociais para as empresas e não adiantará mais entregar um produto muito bom se o mundo a volta do cliente estiver cheio de problemas. “De que adianta ter um aumento de salário, por exemplo, se o mundo a sua volta piorou muito? Esta é uma percepção cada vez mais forte”, pondera Luciana Stein, Diretora para a América Latina da Trendwatching, em entrevista ao Mundo do Marketing. Entenda cada um dos pontos abordados no relatório:
Status Smart – O smart como símbolo de status não está relacionado a novas tecnologias que adotam o prefixo em suas nomenclaturas, como smartphones e smart tvs. O que será cada vez mais valorizado pelo consumidor é o conhecimento adquirido. “Esse movimento começou há 10 anos, quando tivemos o aumento no número de faculdades privadas e hoje temos um número 100% maior de brasileiros que frequentam um curso superior, por exemplo. Antes, estava ligado unicamente à educação formal, mas agora é um conceito bem mais amplo. Não é apenas a questão do diploma, mas há um interesse maior das pessoas por conhecimento, por saber e por ser mais inteligente”, avalia Luciana Stein.
O valor do conhecimento sobre algum tema está relacionado ao status que ele proporciona. Embora a população esteja estudando mais, a questão está ligada à familiaridade que o público tem com o conceito de conhecimento. “O consumidor se interessa em saber como as coisas funcionam e isso lhe traz certo prestígio. As marcas podem fomentar isso, atuando como escolas e criando ações nas quais se tornam instrumentos para ajudar o público nessa busca”, explica a executiva.
Em São Paulo, o Easy Taxi criou um projeto cultural onde os motoriscas instalam pequenas bibliotecas móveis dentro dos veículos, com títulos que ficam disponíveis para os passageiros. No Paraguai, o Burger King se uniu a uma editora para oferecer livros às crianças ao invés dos tradicionais brinquedos que acompanham os lanches. Outro exemplo é da rede de cursos CNA, que desde junho de 2013, passa a vender pacotes de 20 horas de aulas de inglês no varejo tradicional, como supermercados e farmácias.
Civicsumers – Esta tendência engloba tanto aspectos de responsabilidade social e ambiental, como pontos ligados às pressões urbanas vividas nas grandes cidades. Em boa parte dos casos, o sentimento de civicsumers se traduz em consumidores que resolvem promover alguma iniciativa de cunho social, ganham notoriedade e são apoiados por grandes marcas. Isso significa também uma reversão na lógica tradicional: ao invés de pessoas seguindo as empresas, é o momento das companhias seguirem os consumidores, para entenderem que projetos estão sendo desenvolvidos, as demandas e o que pode ser trabalhado em conjunto.
Alguns exemplos são o app Fumaça Preta, distribuído gratuitamente para ajudar nas denúncias sobre veículos que estão poluindo o ambiente, e o movimento Imagina na Copa, criado em Recife. “Esse é um movimento muito interessante, pois do consumidor, sempre se esperou apenas que consumisse, mas hoje vai além: este cliente criou movimentos para falar, por exemplo, dos problemas da sua rua, do seu bairro ou das infrações urbanas. As marcas podem se aproximar desses projetos. O Imagina na Copa nasceu assim e hoje existem grandes companhias patrocinando este movimento”, explica Luciana Stein.
Bitter Truths - Essa tendência é uma acentuação da responsabilidade social. Cresce a percepção entre o consumidor de que não adianta ter uma vida melhor se todo o resto estiver muito ruim. Essa visão é cada vez mais forte e as pessoas passam a tolerar também campanhas mais duras e diretas. Os latino americanos estão mais receptivos a marcas que exponham a realidade, mesmo que essa não seja a mais agradável, o que impacta diretamente na maneira como produtos e serviços podem se posicionar. “Essas campanhas de verdades crueis tentam fazer com que o cliente crie empatia e se coloque no lugar de outros”, aponta a Diretora da Trendwatching.
A ONG Teto é citada no relatório com a sua ação Invisigram, que usou o Instagram para arrecadar donativos para comunidades pobres brasileiras. A iniciativa contou com o apoio de celebridades que emprestaram suas contas para moradores destas comunidades, para que estes postassem imagens da sua realidade. O BRMalls também aparece como case de sucesso com a sua loja vazia, instalada dentro de um dos shoppings da rede. O objetivo era preencher o ponto de venda com itens doados pelos consumidores. “Se hoje algumas empresas são sociais, no futuro, todas serão”, complementa Luciana Stein.
Protective Tech – Com o excesso de tecnologia e recursos digitais absorvidos no cotidiano, o público estará mais atento a produtos e serviços que protejam contra a perda de privacidade. O projeto de reconhecimento biométrico nos terminais de autoatendimento do Banco do Brasil é citado como exemplo de serviço que ganhará destaque. Mas há também uma grande preocupação com a privacidade digital. “Aumentou a preocupação com o uso que as companhias fazem dos dados das pessoas. Certamente teremos mais empresas que usarão isso como diferencial daqui por diante. O consumidor, independente da sua classe social, está mais atento a estas questões e mais consciente”, avalia Luciana Stein.
Life on Demand – A tendência vida on demand citada no relatório da Trendwatching não diz respeito apenas a serviços digitais, mas a toda oferta que ajude os consumidores a poupar tempo. As marcas que conseguirem oferecer ao público soluções que permitam a ele escolher o melhor tempo e local de consumo serão as mais valorizadas daqui por diante. Poupar tempo sempre foi um desejo das pessoas desde a década de 1960, quando começou o processo de automatização do lar. “O que muda é a velocidade deste desejo, que está mais acelerado. A tecnologia eliminou o tempo de espera e com isso as pessoas já não admitem esperar nada. A vida tecnológica acelerou o tempo da vida física. Neste contexto, aguardar 30 segundos em um sinal de trânsito pode ser considerado um tempo muito grande”, argumenta a executiva.
Aplicativos como o ReservaVagas, que permite ao visitante reservar uma vaga para o seu carro em um shopping de Guarulhos, São Paulo, antes mesmo de sair de casa, e a padaria Pão To Go, em formato de drive through, são exemplos de como esta tendência pode ser aplicada a diversos modelos de negócios. “Quando se fala no termo on demand, não estamos olhando para o lado científico da coisa. Como consumidores e como produtores, cada vez mais criamos e consumimos conteúdo para todos os espaços das nossas vidas. Não esperamos mais nada. E isso se relaciona com a questão da conveniência. Hoje a decisão de compra substitui a questão da qualidade, pois entende-se que a qualidade já faz parte da formatação básica do produto ou serviço”, complementa Luciana Stein, em entrevista ao portal.
Fonte: mundodomarketing.com.br
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