Consultor norte-americano Randy Murray afirma que profissionais que parecem ocupados demais estão, na verdade, fingindo trabalhar
Luísa Melo, de Exame
Se os funcionários de uma empresa parecem muito ocupados durante todo o expediente, é um mau sinal. Eles provavelmente estão fingindo, e não de fato trabalhando.
É o que diz o consultor norte-americano Randy Murray. Ele, que também é dramaturgo, presta consultorias sobre comunicação para as maiores empresas dos Estados Unidos há mais de 25 anos. Dessa experiência é que veio a conclusão de que existe um "teatro da ocupação" nos locais de trabalho.
Ele faz a afirmação por um motivo simples, observado em muitas corporações: em um ambiente de trabalho normal, sem a presença do chefe, ouve-se algum barulho de digitação, conversas normais e ligações feitas e recebidas. Mas se o gestor aparece, "os sons do trabalho se transformam instantaneamente em digitação barulhenta, telefones sendo tirados do gancho e funcionários paralisados", afirmou, por e-mail, em entrevista a EXAME.com.
O consultor diz que há até mesmo dicas para fingir estar produzindo. "Carregar uma prancheta de anotações enquanto anda. Isso faz você parecer ocupado para o seu chefe", brinca.
Segundo ele, os profissionais que chama de "trabalhadores do conhecimento", pessoas como programadores, escritores, equipes de marketing e vendedores, têm um ritmo natural que inclui pensamento e reflexão. "Isso não parece 'estar ocupado' para quem está de fora (os chefes). Alguns profissionais se sentem culpados quando estão pensando. Não parece trabalho", diz. É por causa deste tipo de pensamento, que eles começam pequenos teatros, "performando atividades que os fazem parecer ocupados".
A ocupação constante às vistas do chefe, para Murray, pode trazer o efeito oposto ao desejado. "Eu tenho descoberto, de fato, que o chefe aparecer pode causar a diminuição ou mesmo a parada da produtividade para que o teatro possa ter lugar", conta ele. "Isso é o oposto do que a maioria dos gestores querem, mas eles estão felizes em ver funcionários muito, muito ocupados", completa. Além disso, segundo ele, o "teatro da produtividade" funciona ainda como uma camuflagem de proteção. "Em muitos ambientes de trabalho, se você não parece muito ocupado, você receberá mais coisas para fazer".
Não se trata de trabalho em excesso
Não quer dizer que os colaboradores estejam concluindo suas tarefas muito rápido, ou recebendo mais trabalho do que deveriam. A questão é que o "trabalho do conhecimento" não acontece em ritmo constante, segundo Murray. "É simplesmente impossível para um programador se sentar em uma mesa, acertar o relógio e digitar programas por oito horas seguidas", exemplifica.
O trabalho real, para ele, muitas vezes acontece nas horas em que parece que o empregado não está fazendo nada.
Como evitar
Fingir estar trabalhando, não é o problema, segundo Murray. "A real questão é que os supervisores esperam e demandam atividade constante. Isso não é realista e desejável para o ambiente de trabalho moderno".
Para evitar o problema, primeiramente, Murray defende que a única maneira de avaliar a produtividade de uma pessoa é pelo resultado. "Eu não me importo sobre como um funcionário age ou quão ocupado ele parece se quando chega o deadline o trabalho está concluído com o nível de qualidade desejado", afirma.
Além disso, o consultor recomenda aos gestores trabalharem próximos de suas equipes, descobrir qual a quantidade certa de tarefas a delegar, confiar e verificar os resultados.
Ele diz que é importante deixar claro para os funcionários que não se espera que eles estejam ocupadas 100% do dia. "Informe que é 'ok' pensar, perguntar questões, se mover e sim, socializar em pequena quantidade", aconselha. "Mas também diga que você espera que o trabalho seja cumprido de acordo com a agenda. Segure-os na agenda, mas seja flexível sobre como eles entregam os resultados".
Murray considera "que bons gestores trabalham em estreita colaboração com sua equipe", seja para conseguir resultados a curto ou a longo prazo. Ele afirma ainda que os experientes sabem a quantidade de tarefas que pode ser cumprida em determinado período. "Há muito poucos trabalhos fora da linha de montagem que exige oito horas de atividade", completa.
Fonte: Exame.com
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