O que um médico residente tunisiano na casa dos 20 anos pode ensinar a executivos do alto escalão da KPMG? Aparentemente, muita coisa.
Skander M’zah, um médico que participou da revolução tunisiana de 2010/2011, foi um dos palestrantes no encontro de 500 novos sócios da consultoria, realizado em outubro em Nova Déli, na Índia. Os tópicos da palestra de M’zah incluíram lições aprendidas durante as turbulências políticas ocorridas na Tunísia e como se preparar mentalmente para mudanças.
Há muito as empresas contratam oradores motivacionais e “gurus” dos negócios para falar para funcionários. Mas ultimamente, estimulados pela demanda por um retorno mais palpável sobre o investimento e pelo marasmo do circuito tradicional de palestras, os planejadores de eventos estão recorrendo a CEOs, historiadores e até mesmo pilotos de caça para proporcionar uma visão nova sobre assuntos como gerenciamento de crises e cultura corporativa.
A mudança foi acelerada pelo fervor crescente das “TED Talks”, conferências com palestras curtas de diversos acadêmicos, políticos e executivos, gravadas e disponibilizadas gratuitamente na internet. Inspirada no entusiasmo em torno dessas palestras, a KPMG realizou seu encontro como um evento TEDx, sob o guarda-chuva das TED, mas organizado de forma independente.
“Não se trata apenas de dizer a alguém para ir lá e dizer alguma coisa”, afirma David Lavin, cuja Lavin Agency representa os fundadores da Kiva e ING Direct, além de neurocientistas e políticos, entre outros. “Os palestrantes estão dizendo: ‘Vejam o que estou fazendo. É muito legal. O que vocês estão fazendo?’.”
A divisão americana da construtora Skanska realizou seu encontro administrativo anual em Phoenix, Estados Unidos, no mês de março, quando 430 executivos graduados e funcionários de alto potencial estavam reunidos para implementar uma nova estratégia que exigiu vários anos de planejamento.
A companhia contratou dois ex-pilotos de caça para discutir os passos necessários para se executar com sucesso uma missão, incluindo como definir um projeto, analisar os progressos, comemorar o sucesso e a apresentação de relatórios no final. Jim O’Shea, vice-presidente sênior e administrador-chefe da Skanska USA, queria reforçar o nível de introspecção entre a equipe, já que a companhia estava tomando uma nova direção.
É difícil quantificar o impacto que um orador de fora pode ter sobre um grupo de funcionários. Mas uma opção é criar eventos que se pareçam mais com “guias práticos” e apresentem resultados mais palpáveis e imediatos ao invés de simplesmente motivas as pessoas.
Em abril, 150 funcionários da equipe de marketing da fabricante de licores Beam se reuniram em Los Angeles para uma conferência bianual. Para iniciar o evento, a Beam contratou The Moth, um grupo de contadores profissionais de histórias mais conhecido por um programa de rádio semanal. “Eles são os melhores para ensinar as pessoas como contar histórias”, diz o diretor de marketing Kevin George. E com apenas segundos ou minutos para transmitir mensagens sobre marcas como Jim Beam e Maker’s Mark, as histórias contadas pela Beam precisam ser bem definidas.
O grupo The Moth desmembrou a estrutura de uma história, mostrando por que certas partes eram cativantes, e então fez os funcionários da Beam contarem uma outra história. George não revelou quanto a Beam gastou com o evento de abril, mas disse que o investimento valeu a pena. Em maio, representantes da companhia se reuniram para discutir a inovação de novos produtos e em vez de apenas falarem sobre as funções dos produtos, eles perguntaram uns aos outros: “Qual é a história que esses produtos transmitem? Como vamos contar isso aos consumidores?”.
As empresas parecem dispostas a pagar o preço, pois estão desembolsando dezenas, ou mesmo milhares de dólares pelos serviços dos palestrantes. Lavin diz que o dinheiro é o menos importante no contexto do afastamento de altos executivos de seus trabalhos por vários dias.
É claro que as companhias também querem que seus eventos sejam divertidos. Elas podem tentar criar uma experiência que estreite os laços entre os funcionários, ou mostrar reconhecimento pelo trabalho duro, afirma Don Epstein, diretor-presidente e fundador da Greater Talent Network. CEOs que são celebridades, líderes empresariais com fortes marcas pessoais, como Tony Hsieh da Zappos.com, combinam conteúdo sério com entretenimento, explica Peter Jacobs, um agente do CAA Speakers Bureau.
Quando Scott Kavanagh, um dos fundadores da The Art Productions, agenda conferências sobre marketing e liderança, ele procura palestrantes com experiência prática, “em vez de apenas pessoas que escrevem sobre o assunto”. Os palestrantes de uma conferência sobre marketing realizada em Toronto, Canadá, no mês passado incluíram o cofundador do Twitter Biz Stone e o ex-executivo de marketing Seth Godin. Jovens fundadores de empresas são “grandes contadores de histórias”, diz Kavanagh, e tendem a conseguir uma maior afinidade com a plateia do que gigantes da administração mais velhos como Jack Welch.
Logicamente, acadêmicos célebres como Clayton Christensen e Michael Porter, ambos da Harvard Business School (HBS), continuam sendo muito procurados. Mas muitos administradores já os viram falar, de modo que as empresas vão além dos “suspeitos usuais” quando querem convidar alguém associado à poderosa marca HBS.
Nancy Koehn, uma historiadora da HBS que já escreveu sobre o presidente americano Abraham Lincoln e o explorador Ernest Shackleton como líderes em períodos de crise, vem recebendo mais convites para eventos corporativos. No último ano, ela já falou sobre Lincoln para equipes da Starbucks e da Estee Lauder, entre outras, e discutiu a assustadora experiência de Shackleton na Antártica com uma equipe de vendas da fabricante de óculos de sol Oakley.
Koehn diz que os executivos ficam aliviados em saber que até mesmo Lincoln tinha dúvidas às vezes, e veem em Shackleton um modelo para enfrentar grandes crises.
(Dow Jones Newswires)
Fonte: www.valor.com.br
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