Os potenciais estragos das dinâmicas de grupo - e como sobreviver a elas
Construção de times, coaching, desenvolvimento mental, programa de liderança... Que grande empresa nunca passou por isso? A ideia é estimular a comunicação, reforçar a identidade da equipe e, claro, melhorar o desempenho do pessoal. Mas nem sempre dá certo. Que o diga F.M., gerente de uma grande organização. Ela procurou o psiquiatra Frederico Porto, de Belo Horizonte, com sintomas de depressão. Havia acabado de passar por uma dinâmica dessas, promovida por uma consultoria de RH.
A proposta do encontro era que os altos executivos expusessem suas vulnerabilidades e desenvolvessem intimidade uns com os outros. O resultado, diziam os consultores, aumentaria o nível de confiança entre os membros da equipe. Mais empatia levaria a mais cooperação e a resultados melhores.
F., a princípio, não se sentiu confortável em falar de sua vida pessoal nem de ressentimentos em relação aos colegas. Mas o ápice de seu mal-estar foi quando o consultor pediu para que as mulheres ficassem de um lado da sala e os homens de outro. Em seguida, pediu à turma masculina que opinasse sobre cada mulher, em público, com ênfase no aspecto sexual.
O resultado foi um fracasso completo. “Em seguida, ela pediu uma licença médica à empresa”, diz Porto, um psiquiatra que também atua como consultor organizacional. “Ficou tão envergonhada e mexida que dizia que, na volta ao trabalho, pediria demissão.”
Desastres como esse são raros. O mais comum, quando a empresa embarca em dinâmicas de grupo heterodoxas, é uma leve sensação de tempo perdido. Há casos em que o treinamento dá muito certo, e formam-se laços onde antes havia rixas. Mas pode acontecer o oposto: formarem-se rixas onde antes não havia nada.
Em geral, consultores que aplicam treinamentos assim acreditam que as pessoas devem ser autênticas no trabalho. A premissa é válida, mas há limites. E cada um deve saber o seu. Se você for passar por um treinamento desses, convém aplicar uma dose de hipocrisia e cinismo – não a ponto de boicotar a iniciativa, mas o suficiente para se preservar.
Outro problema potencial dessas atividades é a alta expectativa que geram, diz Claudio Garcia, presidente para a América Latina da consultoria de recursos humanos LHH/DBM. “Muitas organizações nivelam a atividade pelos executivos mais avançados no processo de autoconhecimento”, diz. Para quem não está nesse nível, podem acabar aflorando emoções para as quais a pessoa não está preparada. “Eles podem travar, frustrar-se, entrar em crise existencial”, diz.
Gutemberg de Macêdo, presidente da Gutemberg Associados, outra consultoria de aconselhamento de executivos, sugere a proatividade. “Nunca deixe nada mal resolvido na empresa. Se tem um problema com seu chefe, converse com ele. Repasse o que quer dizer e pergunte-se quais as consequências, antes de falar”, diz. Mas fale – enquanto pode escolher o contexto.
Fonte: epocanegocios.globo.com
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