Especialistas alertam para os riscos de empréstimos; o melhor caminho é contar com o próprio dinheiro e o apoio de familiares e amigos
Por Débora Álvares
Um estudo de viabilidade econômica é essencial para quem deseja abrir um negócio. Mas onde conseguir o investimento para colocar em prática os planejamentos do papel? Para alguns especialistas em finanças, é perigoso recorrer a empréstimos bancários e fundos de investimento logo de cara. A dica é ter cautela, especialmente no início.
Neste momento, a ajuda de amigos e família é mais do que bem-vinda. Antônio Paulo Terassovich, professor do Programa de Capacitação de Empresa em Desenvolvimento da Fundação Instituto de Administração (Proced/FIA), destaca o que nos Estados Unidos chama-se de 3 Fs (familiy, friends e fools ou, na tradução, família, amigos e bobos). “Tem-se que resistir ao máximo entrar em bancos e apostar em investimentos próprios, da família, de amigos ou de pessoas que acreditem na sua ideia”.
Este conselho vale especialmente para os primeiros dias da empresa. Correr ao banco antes do negócio ter se consolidado pode ser um problema no futuro. “Após um tempo de funcionamento, é possível saber se o negócio vai dar certo e, aí sim, com critério, cuidado e planejamento, pode-se captar recursos externos de fato”, ressalta Terassovich.
Rose Mary Lopes, coordenadora do Núcleo de Empreendedorismo da ESPM, reforça esta tese. “É difícil para alguém que está começando garantir que o negócio decole, criar faturamento suficiente para pagar todos os custos, sobrar margem para investir e, ainda, para pagar o empréstimo. É melhor que ele se cerque de pessoas que acreditam na sua ideia”.
Mais do que se afastar de empréstimos, a especialista ressalta a dificuldade de conseguir alguém que banque a ideia inicial. Isso porque, os investidores buscam empresas que já tenham o mercado e o conceito testados. “Com esses atributos, talvez já se consiga atrair investidores. Se for um negócio de internet, por exemplo, o empreendedor deve buscar dados a partir dos quais pode ou não animar um investimento", diz Rose.
Quanto investir
Para a professora da ESPM, saber calcular o investimento inicial é essencial para garantir a sobrevivência do negócio. “Os cálculos precisam envolver os custos menores com aluguel, impostos, manutenção, limpeza, energia elétrica, água, comunicação, mas também o que se gasta para formalizar o negócio, com as contratações, o estoque e o mais importante, o fluxo de caixa”, afirma.
Segundo Rose Mary, o empresário de primeira viagem costuma pensar positivamente na hora de abrir o negócio, mas a prudência é indispensável. “Empreendedores tendem a ser otimistas e sabemos que negócios tendem a apresentar dificuldades não esperadas. Às vezes, o retorno demora mais do que se imaginava. Contar que o fluxo de caixa seja alimentado pelo faturamento pode ser uma cilada”, diz a professora.
É aí que entra a importância do planejamento financeiro, com estudos de viabilidade econômica para ver se o negócio dá lucro, com avaliação de custos fixos e variáveis, além do fluxo de caixa.
“Normalmente a pessoa pensa que já tem dinheiro para os custos primários e esquece que as compras são à vista e o recebimento, a prazo. Aí, falta dinheiro”, avalia Terassovich.
Segundo o investidor-anjo Yuri Gitahy, fundador da Aceleradora – instituição que apoia startups com gestão e capital semente –, deve-se calcular com bastante cuidado a quantidade de investimento necessário: “É importante definir muito bem a estratégia de investimento e decidir se um aporte é realmente necessário, porque ele irá transferir percentual da empresa dos empreendedores para os investidores.”
Depois de maduro
Quem conseguiu convencer amigos e familiares a investir no negócio provavelmente vai continuar precisando de capital quando a empresa estiver mais madura. A partir deste ponto, as opções começam a ficar mais variadas. É, sim, possível conseguir juros mais baixos e recursos mais fáceis. Um sócio-investidor, por exemplo, pode ser uma boa saída.
As linhas de crédito do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) variam de acordo com a necessidade do negócio, indo de capital de giro e aquisição de máquinas até investimentos em inovação. A subvenção econômica é recurso interessantes para empresas iniciantes. Em geral, como é o caso do programa PRIME, da Finep, o capital investido não precisa ser devolvido.
Uma opção mais nova é o financiamento colaborativo ou crowdfunding, em que pessoas comuns estão dispostas a financiar projetos através de plataformas online. Geralmente, ações nas áreas de arte e cultura conseguem capital através deste recurso.
Fonte: exame.abril.com.br
Fonte da imagem: gettyimages
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