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As Revoluções da Informação

Inovação que muda o mundo vem sempre da eliminação de barreiras

Por Clemente Nobrega

Em 1999 - no auge do ôba ôba da Internet pré estouro da bolha - Peter Drucker escreveu: "a verdadeira revolução da informação ainda não aconteceu. Ela não terá a ver com TI,computadores ou artefatos. Será sobre o “fora” das organizações.Vai enfatizar mais o “I” que o T”. Para ele, o que estava em curso era o desdobrar de uma dinâmica iniciada quando o homem inventara a linguagem. Era uma coisa “gramatical”. Ninguém entendeu nada, mas hoje parece mais claro. Veja.

Nossa revolução da informação é a quarta na história - depois da escrita, do livro manuscrito e da palavra impressa. Nas anteriores, o que sempre ocorreu foi, digamos, um movimento “para fora”, uma expansão de limites. A palavra escrita foi inventada para registrar transações comerciais entre dois indivíduos, o livro manuscrito expandiu o alcance da comunicação para mais gente e a palavra impressa levou nuances novas de imaginação e conhecimento para além das clausuras dos mosteiros (que era onde o saber dos manuscritos se concentrava). A informação digital fragmenta mais ainda tudo o que é monolítico e concentrado. O efeito dessa “coisa” se manifesta de múltiplas formas.

Pense em profissões: um técnico manipulando softwares CAD/CAM produz o que há 20 anos exigia times inteiros de especialistas. A animação digital da PIXAR desconstruiu os ilustradores da Disney. Os algoritmos de risco de crédito detonaram a pose dos analistas financeiros. Fotografar virou uma câmera digital que até sua avó manipula.

Inovação que muda o mundo vem sempre da eliminação de barreiras que impediam que alguma coisa ganhasse escala (pense em redes sociais contribuindo para derrubada de tiranos). O mainframe vira um PC que se fragmenta em dispositivos de mão. Lugares onde tínhamos de ir foram eliminados - o centro de processamento de dados (CPD) evaporou-se, agora temos múltiplos datacenters e a “nuvem”. O centro de cópias deu lugar a uma pequena impressora em sua mesa. A autoridade migra do supervisor para o operário da linha de montagem, que pode interromper a produção quando detecta um erro. O processo de P&D sai da Procter&Gamble, da Merck ou da Pfizer, torna-se “open” e vai para uma rede externa. Idem para estruturas de comando militar - do ponto de vista da informação, trabalhadores operando estruturas enxutas numa linha de produção e um comando autônomo que captura uma base terrorista – são processos análogos: em ambas as operações, a decisão, a cada momento, é tomada na ponta. Quem lidera não manda nem controla, apenas orquestra. Não precisa estar lá supervisionando nada. O banco vai até você (caixa eletrônico, bank line), o supermercado vai até você (e-commerce). Educação e saúde - os setores mais impermeáveis a essa dinâmica - também irão até você. Sistemas de ensino irão até o usuário. O hospital, os exames, o médico e o tratamento irão até você.

Era disso que Drucker falava. Não é TI. Palavras, leituras e significados mudam porque as barreiras ao “imaginar” e ao “fazer” desmancham-se no ar dissolvidas pela informação.


Fonte: Revista Época – junho – coluna do Clemente Nobrega

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