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A Sabedoria Das Multidões: Por Que Muitos São Mais Inteligentes Que Alguns?

É um erro presumir que a chave para solucionar problemas ou tomar boas decisões é encontrar aquela pessoa certa que terá a mágica resposta

Por Diego Andreasi

Para nós, brasileiros, unir as palavras “sabedoria” e “multidão” em uma única frase, parece ser uma imensa loucura. Digo isso porque estamos mais do que acostumados a presenciar tumultos envolvendo torcidas organizadas, atos massificados de vandalismo ao patrimônio público, tentativas frustradas de eleger os melhores candidatos políticos, entre tantas outras... Na imaginação popular, os grupos tendem a deixar as pessoas burras, loucas ou ambas. 

Esse pensamento foi expresso no passado pelos mais variados autores, como Friedrich Nietzche que disse: “eu não acredito na sabedoria coletiva da ignorância individual”, ou o crítico francês Gustave Le Bom que proferiu: “nas massas é a estupidez e não o bom-senso que se acumula... As massas nunca conseguem realizar algo que demande um alto grau de inteligência”. Porém, é exatamente para desafiar essa questão, que o jornalista James Surowiecki escreveu sua obra A sabedoria das multidões: por que muitos são mais inteligentes que alguns e como a inteligência coletiva pode transformar os negócios, a economia, a sociedade e as nações.

A tese do livro é relativamente simples e compacta, o autor tenta provar que uma multidão eclética toma decisões mais inteligentes que um pequeno grupo de especialistas. Em suas palavras, mesmo que a maioria das pessoas em um grupo não seja especialmente bem informada ou racional, ele ainda pode chegar a uma decisão coletiva sabia.

Para ele, é um erro presumir que a chave para solucionar problemas ou tomar boas decisões é encontrar aquela pessoa certa que terá a mágica resposta. Ele conclui seu pensamento dizendo que caçar o especialista é um equivoco, e um equívoco caro.

Exemplificando a sabedoria das multidões

O primeiro dos dois exemplos básicos do livro nos remete a uma feira agrícola no ano de 1906, onde o cientista britânico Francis Galton reconheceu a oportunidade de realizar um simples experimento em um concurso de “adivinhar o peso”. Neste concurso, qualquer visitante poderia - pelo preço de algumas moedas - estimar o peso líquido (apenas da carne com os ossos) de uma vaca – observando-a viva através de uma cerca.

Centenas de curiosos tentaram a sorte, entre eles, fazendeiros acostumados a lidar diariamente com vacas, açougueiros que as cortavam e vendiam diariamente, funcionários de frigoríficos e também donas de casa, crianças e homens que nada tinham a ver com qualquer assunto ligado à pecuária.

O bom senso diria que a melhor estimativa viria de um dos especialistas presentes, mas Galton provou que há uma inteligência maior em ação que a de qualquer indivíduo. O cientista tomou emprestados os 787 bilhetes com as estimativas individuais e calculou sua média. O resultado desta conta foi de 1197 libras, enquanto o peso final do animal depois de morto e limpo foi de 1198 libras. Desnecessário dizer que esta estimativa coletiva foi mais precisa que qualquer das estimativas individuais dos especialistas presentes.

O segundo exemplo foi realizado em maio de 1968, quando o submarino norte-americano Scorpion desapareceu no Atlântico Norte sem deixar vestígios, e a melhor estimativa de onde o mesmo poderia estar estabelecia um raio de 20 milhas, e águas com alta variação de profundidade.

Um oficial da marinha de nome John Craven teve então uma ideia: levou as informações disponíveis a especialistas de várias áreas, pedindo para que estimassem o paradeiro do Scorpion. Craven, munido então das coordenadas de todos os especialistas, utilizou estas estimativas em uma fórmula matemática desenvolvida por ele mesmo e obteve um resultado impressionante: “errou” a localização do submarino por 200 metros.

Como conduzir a sabedoria das massas

Para Surowiecki, os fatores determinantes para que as decisões das multidões sejam realmente mais sábias do que as de especialistas são:

O tamanho do grupo – quanto maior o grupo, mais confiável será a avaliação.

Diversidade - Os indivíduos que compõem a multidão devem ser diferentes em suas raízes, formações, opiniões, etc. Segundo o raciocínio do autor, é a disparidade de opiniões que, na média, vai garantir uma opinião coletiva inteligente, mesmo quando esta opinião é comparada com a opinião de grupos formados só por especialistas no assunto em questão.

Independência - Os indivíduos devem formar e manter suas opiniões de maneira independente das opiniões dos demais integrantes do grupo, o que contribui para que a diversidade crie o efeito de soma das informações e cancelamento dos ruídos.

Descentralização - As decisões que um grupo produz são mais inteligentes quando não há uma força centralizadora coordenando os esforços.

Agregação – Uma vez produzidas, as opiniões dos componentes do grupo devem ser agregadas, de forma a produzirem uma opinião coletiva. Se um grupo atende a essas condições, o que, convenhamos, é muito difícil, sua avaliação provavelmente será exata.

Problemas

É evidente que reunir um grande número de pessoas em busca de soluções não é uma tarefa fácil, e problemas podem surgir. O autor reconhece esse fato e cita os principais problemas enfrentados pelas multidões em busca da sabedoria:

Problemas cognitivos: são perguntas para as quais pode não haver apenas uma resposta certa, mas para as quais certamente existe algumas respostas melhores do que as outras. Exemplo: qual seria o melhor lugar para construir um novo hospital na cidade?
Problemas de coordenação: exigem que os membros de um grupo descubram como coordenar o seu comportamento com os outros, sabendo que todo mundo está tentando fazer o mesmo. Exemplos: ajustar um preço justo para ambos os lados em uma negociação, o desenvolvimento de softwares livres, descobrir como dirigir com segurança em um transito caótico...
Problemas de cooperação: envolvem o desafio de levar pessoas desconfiadas e egoístas a trabalharem juntas, mesmo quando o interesse pessoal pareça determinar que nenhum individuo deveria participar, ou, em outras palavras, é quando elementos de um grupo precisam dividir tarefas entre si para alcançar resultados que não poderiam ser alcançados individualmente. Exemplos: pagar impostos (já escreve isso no texto A sociedade e os impostos), lidar com a poluição.

Cuidados a serem observados

Envolva diferentes especialistas, e não diferentes ignorantes: é claro que não adiantará você reunir um grupo de pessoas diferentes, mas inteiramente desinformadas. A diversidade citada pelo autor envolver reunir um grupo heterogêneo de pessoas com diferentes graus de conhecimento e insights, é dessa forma que você lucrará mais confiando a eles decisões importantes do que as deixando nas mãos de uma ou duas pessoas, não importa quão inteligentes sejam essas pessoas.

O desempenho passado não é garantia de resultados futuros: é possível que exista um pequeno grupo de pessoas que consistentemente conseguem oferecer avaliações melhores do que aquelas oferecidas por um grupo heterogêneo, como o investidor Warren Buffet, porém, mesmo que eles existam, não há como identificá-los facilmente.

Cuidado com a centralização: quanto mais influência os membros de um grupo exercem sobre os outros, e quanto mais contato pessoal eles têm com os outros, menos provável que as decisões do grupo sejam sabias. Quanto mais influencia exercermos sobre os outros, mais provável é que iremos acreditas nas mesmas coisas e cometer os mesmos erros, ou seja, é possível nos tornarmos individualmente mais inteligentes e coletivamente mais tolos.

Seguindo o rebanho...

O extinto de rebanho nos diz que é melhor seguir a massa e perder pouco, em vez de inovar e correr o risco de perder muito. Qualquer um que contrarie a multidão, adotando uma estratégia contrária, provavelmente será considerado louco, e ninguém quer ser chamado de louco. Por fim, a massa segue o rebanho porque é o mais seguro a se fazer.

Para citar um exemplo, os consultores americanos Chris Anderson e David Sally, mostraram em seu livro Os números do jogo, que escanteios curtos originam mais gols do que os escanteios cobrados dentro da área. Sendo assim, pergunta-se: por que os técnicos preferem uma jogada cautelosa quando estatisticamente existe uma jogada melhor? Porque todos agem assim!

Na ausência de uma clara evidencia em contrário, é mais fácil para os indivíduos criar explicações que justifiquem a forma pela qual as coisas são do que imaginar como elas poderiam ser diferentes. Se ninguém mais faz, então deve significar que não há sentido em fazer.

Conclusão

Por mais bem informado e sofisticado que seja um especialista, seus conselhos e previsões devem ser confrontados com aqueles feitos por outros, para extrair o melhor dele. Tentar caçar o especialista em busca do único homem que terá as respostas para os problemas de uma organização é perda de tempo.

As deliberações do grupo são mais bem-sucedidas quando eles têm uma agenda clara e quando os líderes assumem um papel ativo em assegurar que todos tenham uma oportunidade de falar.

A Sabedoria das multidões não é a de que um grupo sempre dará a você a resposta certa, mas a de que, na média, ele regularmente oferecerá uma resposta melhor que a de qualquer individuo.


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