Por Mariana Amaro
Menos de 10 minutos é o tempo estimado para sair da maravilhosa praia de Iracema, em Fortaleza, e chegar à sede da Companhia Energética do Ceará (Coelce). Mas esse cálculo, ultimamente, tem ficado longe da realidade. O mesmo ocorre em São Luís, Natal, Recife e muitas outras cidades do Nordeste.
“O progresso chegou e trouxe o trânsito” é uma frase recorrente. Nos primeiros seis meses deste ano, a economia nordestina cresceu 4%, ante 0,6% da média nacional. Muitas empresas estão desembarcando na região, trazendo desenvolvimento, mas enfrentando um problema bem mais complexo do que os engarrafamentos: a escassez de qualificação.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe têm a maior taxa de analfabetismo funcional do país: 27,2%. Isso significa que, na região, uma em cada quatro pessoas com mais de 15 anos tem menos de quatro anos de estudo.
“O Nordeste vem acelerando muito à frente do resto do Brasil, mas não aproveitará essa onda sem o desenvolvimento dos profissionais”, diz Felipe Mançano, diretor do escritório da empresa de recrutamento Michael Page em Recife.
As empresas instaladas na região têm três alternativas para lidar com a carência de mão de obra qualificada. A primeira delas é trazer profissionais de fora. “Quanto mais alta é a posição, mais fácil é trazer gente de outras regiões, porque o pacote de salário e benefícios é bem atraente”, afirma Felipe.
A segunda é alocar algumas áreas do negócio em outras regiões, como Sul e Sudeste. A terceira alternativa, formar mão de obra local, é a mais demorada, mas de efeitos mais duradouros. “O governo até investe em capacitação, mas, como isso não acontece na velocidade em que o mercado cresce, muitas companhias têm tirado do próprio bolso para formar os profissionais”, diz Felipe.
Bons exemplos disso podem ser encontrados nas nove empresas do Nordeste classificadas nesta edição do Guia VOCÊ S/A — As 150 Melhores Empresas para Você Trabalhar. Juntas, elas destinaram 8,25 milhões de reais ao treinamento dos funcionários em 2013. A Ale Combustíveis, com sede em Natal, tem levado os funcionários dos postos de gasolina de volta às salas de aula em seus ônibus-escola.
“Nossa rede é muito pulverizada, e fica difícil treinar todos os funcionários em um ponto central”, diz Christina Barker, gerente de desenvolvimento e estrutura organizacional da Ale. O programa já capacitou 994 pessoas. Já a Companhia Energética do Maranhão (Cemar), de São Luís, e a Cacique Pneus, de Teresina, subsidiam cursos de pós-graduação e MBA para seus gestores.
Para Felipe Mançano, trabalhar em empresas que investem no desenvolvimento dos empregados pode acelerar a carreira. “Nesse caso, até vale a pena mudar de estado por algum tempo, porque você pode saltar alguns degraus profissionalmente”, afirma. Isso fica evidente na Coelce, que criou o Junior Enel Training (JET) para reter jovens talentos.
No programa, qualquer empregado de até 31 anos classificado num teste de inglês e competências é enviado à Itália, onde recebe treinamentos em gestão e mercado de energia. O especialista em planejamento Ruy Magno, de 29 anos, participou do JET em 2011 e, desde então, já foi promovido duas vezes. “Uma vez lá fora, a gente ganha uma visão mais macro do negócio”, diz Ruy.
Para as empresas, o investimento em capacitação é interessante porque tem retorno certo. Para quem entra nessas empresas, é melhor ainda.
“A melhor coisa que um jovem pode fazer no Nordeste é buscar qualificação. Como essa mão de obra é escassa, a chance de conseguir um posto com salário bom e até de ser disputado por empresas é muito maior do que em outras regiões”, afirma Luciana Aguiar, da consultoria de mercado Plano CDE. “O salário inicial até pode ser mais baixo, mas aumenta mais rapidamente”, diz ela.
Fonte: Exame
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