Por Leo Spigariol
Meus heróis morreram de overdose. Ou pelo menos morreram, metaforicamente. Quando comecei o meu escritório de branding/design, a Laika, eu tinha dois modelos que me inspiravam: Steve Jobs e Andy Law. Sobre Steve (1955-2011), dispensaria comentários. Mas não dispenso. O mito que circula é que ele e Bill Gates eram amigos e concorrentes nos anos 70. Bill roubou o sistema operacional da Apple e seguiu em frente com seu Windows. Steve penou aqui e ali e criou um produto que chegava apenas para um público muito restrito, para os “iniciados” e, de certa forma, construindo uma grande seita. Steve foi expulso, posteriormente, da empresa que ele mesmo criara. E, mais tarde, foi convidado a socorrer a mesma Apple, que cambaleava pelo mundo afora devido a decisões estratégicas extremamente equivocadas. Steve salvou a Apple e a elevou à categoria de mito. Sim, de mito. A marca mais valiosa e desejada do mundo. Opa! Peralá! Pouca gente sabe, mas Bill Gates injetou um belo quinhão de dólares na Apple, US$ 150 milhões, em 1997, no retorno de Steve a sua casa. O sonhador e o pragmático, numa metáfora grosseira, acabavam se tornando uma coisa só. A Apple dispensa comentários: cria os produtos mais sedutores e desejados do planeta há um bom tempo.
Sobre Andy Law, o caso é pouco conhecido por estas terras. Andy Law era um dos chefões da filial da Chiat/Day na Inglaterra, uma agência de propaganda norte-americana extremamente criativa e enxuta. Mas a TBWA, uma gigantesca holding de comunicação mundo afora, veio e comprou a Chiat/Day. Porém, Andy Law e seus parceiros não gostaram nada disso. Afinal, perderiam aquela essência romântica e criativa. Seus clientes ingleses também desabonaram a ideia e se propuseram a manter fidelidade a eles e não seguir com a nova agência sob o domínio da TBWA. Andy Law e equipe foram lá e compraram a briga e a agência, já que representavam muito pouco para o grande conglomerado TBWA. Assim fundaram a Saint Luke’s (1989-2003), uma agência criativa, pequena, com alguns clientes (poucos, pois, em seguida, grande parte daqueles clientes abandonaram a agência) e com muito, muito ideal. Originalmente, a ideia era fazer aquela agência se tornar um modelo cooperativo em que todos, inclusive a faxineira, pudesse lucrar com o trabalho. E funcionou por um bom tempo. Criaram, sobretudo, um modelo ousado e maluco de distribuição dos lucros, um comunismo liberal em pleno século XX. E conseguiram se manter como uma agência pequena e extremamente criativa por um longo período.
Esses heróis me motivaram a criar, criar e criar. E acreditar no sonho. No final, são os sonhos que nos empurram para fora da cama pela manhã e nos mantém de olhos abertos pela madrugada em busca do ouro perdido. Os heróis, de certa forma, morreram de overdose criativa. É difícil encontrar alguma referência à Saint Luke’s no Brasil (o livro que eu tinha desapareceu e, pelo que me consta, não há uma nova edição). Steve Jobs faleceu e sua empresa, hoje, é um coletivo que transpira suas ideias. No entanto, com uma grande participação da Microsoft.
A lição que ficou? Bem, sem eles, talvez eu tivesse permeado a estrada de tijolos cinzas ao invés dos tijolos dourados.
Fonte: blogs.pme.estadao.com.br
Fonte da imagem: Clique aqui
0 Comentários