Por Renato Bernhoeft
Segundo Gabriel Garcia Márquez, escritor colombiano, autor do clássico “Cem anos de solidão” e Prêmio Nobel de Literatura, “a fama é capaz de fabricar a maior a mais pavorosa das solidões. Esta solidão da fama só é comparável à solidão do poder. O poder absoluto é a realização mais alta e completa do ser humano. E por isso, resume, ao mesmo tempo, toda a sua grandeza e toda sua miséria”.
Quem assistiu, recentemente, o premiado e polêmico filme “A Dama de Ferro”, cuja produção se baseou na história de vida, da líder e ex-primeira ministra inglesa Margareth Tatcher, pode constatar os efeitos desta situação. Até mesmo porque o filme também aborda a sua rotina após deixar o cargo e tudo que o mesmo representava. Assim, foi possível constatar que a solidão se faz presente tanto durante o exercício do poder como também em sua etapa posterior.
Tem sido bastante comum encontrar pessoas que durante algum período da sua vida conquistaram fama ou poder, mas que não tiveram a preocupação de se preparar para a etapa de ostracismo e solidão que se seguem. Isso acontece quando já não mais se encontram na condição de personagem, ou sendo tratadas como alguma referência, e deferência, no mundo as cerca.
Os efeitos desse despreparo podem ser observados nas mais diferentes atividades e universos da nossa sociedade moderna. Afeta empresários, altos executivos, políticos, atores, esportistas, artistas, escritores e tantos mais que em algum momento da sua vida conseguem atingir uma posição de destaque ou reconhecimento público. E aqui não estamos falando daqueles que conseguem seus “quinze minutos” de fama, pois esta situação é muito efêmera. Os meios de comunicação e os recursos do mundo virtual têm sido muito utilizados para construir e destruir personagens numa velocidade assombrosa.
Também os milionários – novos ricos ou herdeiros de fortunas – podem ser afetados por esse sentimento. Especialmente porque, nesses casos, muitas vezes eles encaram uma cruel dúvida sobre a autenticidade e honestidade em relação aos que se aproximam na busca de um relacionamento. Isso geralmente os leva a uma vida reclusa, solitária e repleta de temores. Tanto a perda de poder, como do reconhecimento pelos outros, podem acarretar medos, inseguranças e até uma gradativa destruição da autoestima. Para alguns, a situação pode se tornar tão dramática que chega a produzir um sentimento de falta de razão para viver, tal a dependência que criaram em relação a estes mecanismos de veneração ou bajulação.
Todos estes dilemas e questionamentos só tendem a aumentar, na medida em que os índices de longevidade estão se ampliando. Ou seja, vai haver mais tempo de existência para administrar tanto as alegrias como as tristezas. O desafio é se reinventar de forma permanente para buscar novos sentidos para uma vida que também sofre transformações. Afinal, a felicidade não é um estado permanente, mas uma busca constante para toda a vida. Não se consegue combater a solidão e, ao mesmo tempo, se reinventar, apenas consumindo mais – mesmo porque um dos apelos do consumismo é o de se tornar exclusivo, buscar ser “diferente” ou percebido como tal. Isso só aumenta a solidão, pois “nada jamais será o bastante e o suficiente.”
O alerta vale de forma especial para os jovens que estão perseguindo esses aparentes modelos de sucesso e reconhecimento. Segundo Adam Smith, “em nenhuma fase da vida humana o desprezo pelo risco e esperança presunçosa de sucesso se encontram mais ativos do que naquela idade em que os jovens escolhem sua profissão”. É um tema para ser discutido em família, onde a busca por um modelo de sucesso se faz muito presente tanto para a vida pessoal como profissional.
Renato Bernhoeft é fundador e presidente do conselho de sócios da höft consultoria.
Fonte: valor.com.br
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