Por Renato Bernhoeft
Partir de um ponto do globo terrestre e, após realizar o seu contorno completo, retornar ao local da partida em um prazo de cem dias é, por si só, uma experiência digna de reflexões e aprendizados. Principalmente se todo esse roteiro for feito na velocidade média de 40 km/hora de um transatlântico com 2.300 passageiros de 12 nacionalidades diferentes, além de 900 tripulantes provenientes de 32 origens e distintas culturas. E acrescentemos a toda essa prolongada convivência as 37 paradas em cidades de 25 diferentes paises, espalhados por cinco continentes e os mais diferentes mares.
A transposição de uma experiência dessa natureza para o mundo corporativo é plenamente possível. Especialmente quando a globalização ganha destaque com o crescente trânsito de profissionais entre paises, continentes e corporações.
Embora realizada em um clima e contexto turístico, a prolongada convivência entre indivíduos de tão distintas culturas funciona como um verdadeiro laboratório que permite observar o grau de tolerância das pessoas às suas diferenças.
A complexidade, bem como os cuidados operacionais e logísticos de uma viagem como essa, iniciam-se bem antes para a empresa que a organiza, bem como para os profissionais que estarão a bordo. Separar os grupos com afinidades culturais, ou mesmo de idiomas, para as refeições já é uma operação que exige conhecimento e sensibilidade.
Essas diferenças nos valores, hábitos e culturas também se tornam evidentes em nações que apresentam conflitos históricos — até mesmo entre grupos de um mesmo país. No caso específico desta viagem foi possível observar, por exemplo, divergências e dificuldades na convivência entre os próprios espanhóis ou belgas.
Em uma viagem tão prolongada, que naturalmente exige convivência permanente e forçada entre indivíduos com tantas diferenças, muitas pessoas acabam descarregando suas insatisfações para os tripulantes. Nessas horas, é interessante observar a importância desses profissionais serem bem treinados. Manter sempre uma postura receptiva, não encarar como pessoal uma queixa ou reclamação, abordar o assunto no idioma do reclamante e olhar nos olhos do interlocutor mantendo uma expressão facial de tranquilidade. Tudo era parte dos ensinamentos que os tripulantes receberam da empresa.
Em um mundo corporativo cada vez mais heterogêneo e multicultural, torna-se vital preparar tanto os expatriados que chegam, bem como os profissionais do país em que está localizada a empresa. Manter atenção e prioridade para ações dessa natureza devem ser incluídas na agenda das companhias que, cada vez mais, se preocupam em criar um ambiente favorável para a boa convivência entre seus colaboradores.
Vale sempre lembrar que as corporações têm se tornado mais competitivas a cada dia, além de estarem apoiadas em estrutras hierárquicas que distanciam as pessoas de uma convivência espontânea.
Mesmo na qualidade de turistas, temos que estar abertos para lidar com as diferenças e extrair delas lições tanto para a vida como para a carreira. Afinal, estar disponível para o novo ou diferente é o primeiro passo para aprender.
Fonte: www.valor.com.br
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