Por Fabio Mestriner
O presidente Kennedy pronunciou um discurso que ficou famoso por convocar os americanos para uma importante mudança de atitude; “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer pelo seu país”, afirmou ele. Depois de percorrer boa parte do nosso país visitando empresas, conhecendo seus problemas e conversando com seus dirigentes, cheguei a conclusão que o discurso do presidente Kennedy bem que se aplica aos empresários brasileiros que vivem se queixando dos “fatores externos” que prejudicam seus negócios e tornam sua vida difícil.
É claro que os problemas externos existem. O Brasil tem uma carga tributária exorbitante, uma das maiores do mundo, nosso sistema fiscal é complicado e o governo é hostil, se comportando muitas vezes como verdadeiro inimigo das empresas nacionais. Tem ainda outros fatores como a entrada de produtos importados de países onde os governos ajudam as empresas a serem competitivas e a exportarem mais, tem o custo das matérias primas, enfim, não é nada fácil tocar uma empresa neste país. Por mais adversa que seja, esta situação não pode servir de desculpa para o mal desempenho da empresa, pois neste mesmo cenário existem aquelas que evoluem e prosperam.
Na realidade, tudo indica que os principais problemas que afetam de forma decisiva o desempenho de uma empresa estão dentro dela. Um estudo realizado pela escola de Administração e Economia FGV mostrou que a influência do mercado internacional, da situação do país e das características peculiares do ano corrente respondem por menos de 20% no resultado obtido por uma empresa. Pouco mais de 80% do resultado se deve única e exclusivamente a “Gestão” que esta empresa recebeu.
Recentemente assisti na TV um programa especial dedicado ao presidente da Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, que nasceu em Guajara Mirin, em Rondônia, e acabou se transformando num dos executivos mais admirados da indústria automobilística mundial e está na lista dos 25 executivos mais influentes do mundo.
Em 99, quando era presidente da Renault e vivia muito bem em Paris, recebeu a missão de mudar com a família para o Japão onde deveria recuperar uma empresa pré-falimentar que devia US$ 6,5 bilhões e tinha uma estrutura pesada e deficitária. Carlos não só conseguiu recuperar a Nissan, como a transformou na segunda montadora do Japão, (atrás apenas da Toyota, líder mundial), e numa estrela em ascensão no mundo das montadoras globais.
O segredo revelado por ele na entrevista que deu a este programa surpreende pela impressionante simplicidade e convicção que demonstrou ao explica-lo: “Os problemas da Nissan estavam todos dentro da empresa e as soluções também estavam lá. Não trouxemos nada de fora, tudo já estava dentro da empresa, precisava apenas ser encontrado”. De forma muito didática, este super-profissional que se tornou referência mundial concluiu dizendo: “Os principais problemas sempre estão dentro da empresa, se você não encontrou é porque não procurou direito”.
Este é um exemplo marcante que deve ser levado em conta por todos nós. Outro exemplo impressionante está sendo visto e confirmado a cada edição de uma série de Seminários Técnicos que está acompanhei em 2013. Neste ano, uma grande indústria trouxe para conduzir um exercício de planejamento estratégico feito ao vivo com a plateia de seus seminários um tarimbado facilitador de Workshops. O facilitador, um especialista reconhecido, que já conduziu este tipo de workshop para as maiores multinacionais e empresas do país, levou os empresários participantes a fazerem uma importante reflexão sobre o que está acontecendo com seu negócio.
Sem interferir no resultado, mas apenas conduzindo o processo de reflexão, o facilitador levou os participantes a identificar os sintomas, estabelecer os objetivos desejados, fazer um diagnóstico sobre o que os está impedindo de alcançar seus objetivos e a partir daí gerar ideias sobre como superar os obstáculos identificados.
Foi interessante notar, seminário após seminário, que o resultado obtido é sempre semelhante. Os empresários começam apontando onde dói, quais são os males que os afligem e indicam que todos os problemas relatados estão todos fora de sua empresa e fora do seu poder de solução. Mas, conforme o workshop avança, eles vão se dando conta que os problemas que realmente os impede de alcançar seus objetivos estão na verdade dentro de suas empresas e ao alcance de suas próprias soluções.
Estas conclusões são alcançadas pelos participantes dos Seminários Técnicos, entre os quais se encontram dezenas de empresas diferentes, que de forma simultânea e sem a interferência do facilitador chegam as mesmas conclusões; “os principais problemas que as impedem de alcançar seus objetivos estão dentro delas e podem por elas mesmas serem solucionados”.
É isso que tem surpreendido todos os participantes. Neste caso, vale lembrar a regata de vela olímpica onde todos os barcos são idênticos, o mar e o vento são os mesmos para todos os participantes, mas tem barcos que se destacam deixando longe seus adversários. Na vida empresarial também é assim, o mar e o vento estão para todos.
A conclusão deste artigo se baseia nos três exemplos aqui mencionados, mas principalmente no pensamento lapidar cunhado pelo presidente da Nissan: “O problema e a solução estão sempre dentro da empresa, se você ainda não encontrou, é porque ainda não procurou direito”. Eu acrescentaria apenas: “ou procurou no lugar errado...”
Fonte: www.mundodomarketing.com.br
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