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Empreendedor: Evangelista ou Herói?

O fundamental é construir uma ponte de sintonia entre uma oportunidade de mercado e o que o empreendedor aspira para si mesmo, independente de sua idade ou momento de vida.

Por André Caldeira

Clayton M. Christensen, célebre professor da Harvard Business School e especialista em inovação, afirma em seu mais recente livro (Como Avaliar Sua Vida? Em Busca do Sucesso Pessoal e Profissional, Alta Books Editora) que nada menos que 93% das empresas que tiveram sucesso no mundo dos negócios tiveram que abandonar sua primeira estratégia porque o plano original se mostrou inviável. Ou seja, somente 7% seguiram no curso planejado, dentro da visão empreendedora inicial.

PreviewIsso significa que um empreendedor de sucesso precisa ser flexível e humilde. Flexível para mudar seu plano ou curso de ação face às respostas do mercado, sejam elas de clientes potenciais ou de investidores. Humilde para saber lidar bem com as provações e mudanças do caminho empreendedor, como em uma autêntica jornada do herói (termo cunhado por Joseph Campbell, um dos maiores especialistas em mitologia da era moderna, que inspirou inúmeros roteiros de grandes filmes de Hollywood, como Guerra nas Estrelas).

A jornada do herói empreendedor envolve também um bocado de método para estudar e se preparar, bem como disciplina para montar um bom business plan. Envolve também desprendimento, o que significa saber aceitar críticas e sugestões, mesmo quando chamam seu filho (sempre lindo, na visão de qualquer pai empreendedor), de banguela, feio ou corcunda (comentários que, dali a algum tempo, podem se revelar essenciais para o sucesso de um projeto...).

Além disso, o empreendedor precisa ter muita energia e iniciativa, sem deixar a acabativa de lado. Como embaixador de uma ideia ou projeto, cabe a ele toda e qualquer chance de sucesso na ótica da visão, da comunicação e da ação. Visão para identificar uma oportunidade e estruturar um bom estudo para que outros (investidores ou consumidores) possam enxergar da mesma forma. Comunicação para vender o tempo todo, engajando apoiadores para criar momentum ou um ciclo virtuoso. E ação para fazer as coisas acontecerem, com recursos esparsos e em muito pouco tempo. Ou seja, multidisciplinaridade tanto de comportamentos como de habilidades (planejar, vender, controlar, engajar, realizar, ajustar, começar de novo).

O herói empreendedor deve, também, saber se relacionar. Networking, no mundo atual dos negócios, é um hábito (ou mesmo um ativo) fundamental, e ainda mais importante para quem quer construir um projeto de sucesso. Sucesso este que também tem mais chances de acontecer com uma postura adequada, ligada ao otimismo e à vontade de fazer acontecer.

A jornada do herói que quer construir seu próprio negócio exige que ele saiba se comunicar, se expressando de maneira objetiva e ouvindo atentamente nos momentos certos. Significa também saber dizer não, para não perder o foco ou fazer concessões sobre as quais pode se arrepender depois.

Um empreendedor (na verdade, qualquer profissional), tem que aprender com seus erros para não cometê-los de novo. Pois certamente novos erros serão cometidos.

E lembrar de sua intenção original. A intenção de construir algo relevante, que gere satisfação, que tenha significado, que traga retorno e que possa, na medida do possível, ser divertido, leve.

Isso passa diretamente por relações interpessoais significativas, que produzem aprendizado e impacto construtivo. Na vida dele mesmo, empreendedor, dos outros, sejam eles colegas de trabalho ou clientes, e na sociedade como um todo.

Tal qual o evangelizador de uma causa, religião ou propósito, um empreendedor empunha uma missão ou responde a um chamado. Que pode acontecer no começo de uma carreira, logo após a formatura, ou ao longo de uma vida executiva. Pode, inclusive, ocorrer dentro de uma visão intraempreendedora, na qual um executivo experiente se engaja em um novo projeto na mesma empresa onde atua há anos, ou em um novo projeto de si mesmo.

O fundamental é construir uma ponte de sintonia entre uma oportunidade de mercado e o que o empreendedor aspira para si mesmo, independente de sua idade ou momento de vida. Um princípio que passa pela renovação e transformação. Pelo autoconhecimento e pela resiliência. Pelo talento e pela fé. Pelo esforço e pela vontade.

Do evangelista.

Do herói.

Ou pela sua.

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