Não importa o gabarito. Muitos profissionais, mesmo supercompetentes, passam a vida assombrados pela sensação de que, a qualquer momento, podem ser revelados uma fraude
Durante 26 anos, Eva Hirsh foi executiva de uma grande empresa de logística naval. Foi diretora de planejamento e financeira, até se tornar membro do conselho. Ao longo de todos esses anos, sempre que era promovida, sua cabeça enchia de pensamentos do tipo: “Será que vou dar conta?”, “não sei se estou pronta”, “será que uma hora vão descobrir que não sou tão boa quanto pensam?”. Ela sentia a insegurança crescer ainda mais diante da excessiva segurança que os outros aparentavam. “Nunca na vida ouvi um colega dizer: estou com medo. No máximo, eles falam em preocupação ou receio.”
Em 2001, Eva deixou a carreira na empresa e se tornou coach executiva. Logo percebeu que seu problema era igualzinho ao de um monte de outros diretores, vice-presidentes, CEOs, conselheiros. Então, decidiu escancarar o assunto nas salas de aula, nos cursos que ministra na escola de negócios Coppead, da UFRJ, e na Fundação Dom Cabral. “Sempre que falo sobre isso, 80% dos alunos ficam estáticos, não olham para os lados. Alguns piscam como quem diz: ‘Sei do que você está falando’.”
Para a coach, a origem dessa insegurança é natural. Biologicamente, o medo é um mecanismo de proteção diante de uma situação de perigo – ou desconhecida. O drama começa quando esse medo vira um fantasma silencioso que persegue a pessoa, como se, a qualquer momento e à menor falha, pudesse ser revelada uma lacuna irreparável em seu desempenho. Segundo Eva, o que faz essa insegurança crescer é uma combinação de dois fatores que se retroalimentam: a alta competitividade dentro das empresas e o tabu de falar sobre as próprias fragilidades. Com medo de se expor diante dos outros e ser passado para trás, as pessoas aparentam uma falsa segurança que, por sua vez, aumenta o sentimento de que todos parecem estar bem, menos eu. Forma-se, assim, um ciclo vicioso.
Teresa Campos Salles, ex- gestora de RH do Pão de Açúcar por 15 anos e hoje sócia da TECS Consultoria, já ouviu relatos dessa natureza de alguns executivos, em conversas particulares. Segundo ela, esse é o padrão mental de quem elucubra muito antes de agir, tentando, por insegurança, antecipar tudo o que pode dar errado em uma situação. “Essas pessoas também se sentem ameaçadas diante de alguém que consideram uma autoridade”, diz Teresa.
De acordo com a consultora, a chave para sair desse modelo mental é se voltar para a realidade. “Ficar pensando em tudo o que pode acontecer ou imaginar o que os outros vão pensar é viver no futuro”, diz. O primeiro passo é se dar conta do ciclo vicioso e interrompê-lo. “Quando começar com: ‘E se acontecer...’, ‘será que...’, volte a atenção ao que está fazendo.” Faça uma lista com suas qualidades e realizações. Assim, fica mais fácil enxergar a situação de fora. Outra sugestão é ter uma conversa franca com alguém de confiança, que lhe ajude a desmistificar suas impressões e a identificar aspectos práticos que pode melhorar – sem dar um peso desproporcional à tarefa. Pode ser um amigo, um mentor ou mesmo seu líder.
Esqueça, no entanto, a ideia de sentir-se 100% seguro no trabalho. Mesmo tecnicamente preparado, “ninguém nunca está pronto para nada na vida”, diz Eva. Pelo menos, até começar a fazer.
Fonte: epocanegocios.globo.com
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