Por Alexandre Hohagen
Então chega aquele momento em que você percebe que tem alguma coisa errada. Até então tudo correu como o esperado e, enterrado na rotina, não notou as mudanças que estavam acontecendo a sua volta até que estivessem perigosamente perto. Acontece muito.
Seja pela situação da economia ou algum tipo de questão administrativa, muitas empresas enfrentam dificuldades financeiras e, nesses momentos, a luz vermelha acende na cabeça de todos os funcionários. Um grande ponto de interrogação e a insegurança que caminham de mãos dadas. Vou ser demitido?
Com o pânico instalado, inicia-se a correria para mostrar trabalho. Ganhar destaque entre os demais colegas, tentar cair nas graças do chefe, mostrar comprometimento - ainda que tardiamente - e investir longas horas de trabalho na esperança de não entrar na lista de corte viram prioridade de uma hora para a outra. O fato é que grande parte das pessoas têm o péssimo hábito de só se mexer quando a situação chega a um ponto crítico.
Já vi diversos artigos e tutoriais falando sobre como se comportar em situações assim. Especialistas dando dicas de como se fazer notar ou mostrar o valor do seu trabalho quando o emprego está em risco, até o ponto de como desenrolar as finanças pessoais quando nenhum conselho dá certo e você acaba no olho da rua.
Como se recolocar? Como fazer um bom currículo? E mais, como explicar o motivo da demissão em uma entrevista de emprego? Tudo isso, claro, ajuda muita gente em momentos difíceis, mas não vejo nada a respeito da hora das vacas gordas.
O que fazer quando tudo vai bem? A empresa cresce a um ritmo constante ou mesmo acelerado, os projetos estão dando certo, os clientes estão satisfeitos. A verdade é que a tendência nesses casos é se acomodar, manter o status quo.
Uma das maiores mentiras dos últimos tempos é que não se mexe em time que está ganhando - ao menos no âmbito empresarial. Profissionalmente, esse é o momento no qual há a maior oportunidade de crescer, e ainda assim muitas pessoas parecem se fechar em uma bolha e não fazer nada além do que é demandado. Sem ideias novas, sem troca de experiência com outros times ou aspirações profissionais extravagantes.
Quem fica parado perde pontos. Quando o dinheiro está entrando é a hora de propor aquele projeto que tinha ficado na gaveta, chamar o colega de outra área para desenvolver atividades conjuntas e aprimorar sua expertise. É a hora de fazer a diferença, e isso vale também para aqueles que almejam uma oportunidade fora do país ou querem expandir a equipe. Sem contar que se mostrar indispensável nesse momento poupará muito estresse caso o cenário mude abruptamente.
Companhias da internet são especialistas nisso. Desde o processo seletivo leva-se em conta a capacidade do profissional de fazer diferença durante toda a sua carreira na empresa. Estimulam-se a liderança de projetos e a exposição de ideias diferentes. Espera-se desse profissional uma postura proativa para encontrar soluções criativas para questões do cotidiano ou projetos extraordinários. Isso tudo em um ambiente de crescimento ou vacas gordas, como disse anteriormente.
Não vou ignorar o fato de que nem todas as empresas bebem na cultura do Vale do Silício ou são tão flexíveis a ponto de dar um montante significativo de liberdade aos funcionários. Mas, como eu disse, as saídas inteligentes para problemas cotidianos, sejam da equipe ou do processo, podem ter grande impacto em uma empresa e talvez valha começar daí.
Vale ter em mente que a grande maioria das empresas não valoriza profissionais acomodados ou que seguem na inércia do que já foi iniciado - ou, como dizem, no vácuo de seus colegas.
A mudança no comportamento do profissional nos tempos de bonança, no sentido de tentar fazer a diferença em tudo o que desenvolve, é algo que deve ser exercitado constantemente, independentemente do cargo. Até porque a consistência na geração de resultado é indispensável para uma carreira sólida. Mexa-se!
Alexandre Hohagen é vice-presidente do Facebook para a América Latina
Fonte: valor.com.br
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