por Marcos Hashimoto
Norma e Jussara são irmãs, mas são muito diferentes entre si. Norma nunca se casou, não teve filhos e jamais precisou trabalhar. Ela sempre viveu com os pais e foi assim muito protegida, como a ‘coitadinha’ que não conseguiu se casar. Depois da morte deles, continuou na mesma casa, vivendo da pensão e aposentadoria de anos dedicados pelo pai ao governo. Hoje, com 72 anos, passa o dia assistindo televisão e fofocando com as vizinhas. Não desenvolveu nenhuma habilidade, nunca teve uma atividade regular e constante, nunca fez nada por ninguém, nem sequer prosseguiu os estudos depois de se formar no colégio, quase não tem amigas e nunca produziu nada de valor.
Jussara, por outro lado, fez faculdade de Pedagogia e lecionou em escolas até os 75 anos, completados no ano passado. Casou-se com 20 anos e teve 4 filhos que lhes deram 12 netos. Todos os filhos estão bem casados e levam uma vida confortável de classe média-alta. Ela já foi proprietária de uma escola, mas não deu certo, fechou-a depois de perder uma boa parte de suas economias. Está em seu terceiro casamento e desistiu de procurar o grande amor de sua vida, estando satisfeita com um companheiro fiel e amigo. Tem muitas amigas, que ocupam o seu tempo nos finais de semana. Embora já aposentada, seu tempo é preenchido com um trabalho voluntário a uma creche perto de sua casa, onde alfabetiza crianças carentes. Caminha regularmente para manter o coração e a pressão em forma, pois não quer passar por outra cirurgia de emergência como há 20 anos quando implantou uma ponte de safena.
Norma se declara feliz por sua vida tranqüila e sem sobressaltos. Ela testemunhou as muitas desventuras de sua irmã que só confirmavam que sua decisão de não se casar e não ter filhos foi certa e agradece a Deus por nunca ter tido a necessidade de trabalhar. Diante de tudo pelo que passou na vida, Jussara até admite que às vezes inveja a irmã, pelas já incontáveis vezes em que lamentou as encrencas em que se meteu e poderia ter evitado se pensasse um pouco como ela.
A pergunta que faço é: Se você tivesse que escolher, qual destas duas vidas você preferiria ter?
Se olhar um pouco para seus próprios problemas, não é difícil imaginar que gostaria de ter a vida mansa de Norma, sem atropelos, sem grandes problemas, sem estresse. Mas, se você for empreendedor, provavelmente acharia que, embora tranqüila, Norma não VIVEU de verdade. Ela passou pela vida, mas não fez nada com ela. Livre de preocupações, mas também livre de realizações.
Se você é empreendedor vai se emocionar com um mero cartão de aniversário feito pelo filho, a despeito das dificuldades para criá-lo e educá-lo. Vai se regozijar com as primeiras matrículas em sua escola, a despeito dos problemas para administrá-la. Vai se lembrar com carinho do primeiro beijo que deu, a despeito das brigas de casal. Vai perceber que o mais importante é sentir-se VIVO e que as desventuras, frustrações e decepções apenas fazem parte desta aventura que é viver.
Gosto de reproduzir uma fábula que recebi pela internet há algum tempo. Era uma vez um viajante que, perdido, foi parar num pequeno vilarejo. Entrou num cemitério para buscar informações e não encontrou ninguém. Reparou então nas inscrições nas lápides e ficou intrigado: ‘Bento Teixeira, viveu 8 anos e 4 meses’, ‘Anita Pedreira, viveu 12 anos e 9 meses’, ‘Maria Carolina, viveu 15 anos e 8 meses’. Túmulo após túmulo ele ia ficando cada vez mais angustiado! ‘Este é um cemitério de crianças!’ pensou, até cair desolado ao constatar a quantidade de vidas abortadas tão cedo. ‘Que terrível tragédia aconteceu aqui? Só uma epidemia justifica tantas mortes prematuras.’
Sentado no chão, cabisbaixo e enternecido com tudo aquilo, quase não percebeu a presença de um velho homem que se aproximou e perguntou porque ele estava tão atormentado. Diante da explicação, o velho se senta ao seu lado e o conforta. ‘Não fique assim meu jovem. Todas estas pessoas morreram bem velhinhas. Acontece que temos um hábito nesta cidade. Todos aqui, desde que nascem, ganham um caderninho em que registram momentos de suas vidas em que viveram algum tipo de emoção’. Diante da estupefação do rapaz, o velho logo complementa:
‘Recebeu uma promoção? Por quanto tempo esta euforia tomou conta de você? Registra no caderno. Soube que ficou grávida? Quantas emoções decorreram desta notícia? Anota o tempo, mesmo que sejam meses ou dias. Seu pai faleceu? Por quanto tempo conviveu com a tristeza desta perda? Escreve no caderno. Aqui nós acreditamos que nossas vidas não devem ser medidas pelo tempo cronológico, mas pelo tempo que efetivamente vivemos. Quando alguém morre, ao invés de registrar na lápide sua idade cronológica, marcamos o seu tempo verdadeiro de vida’.
E você? Quanto tempo você já poderia ter marcado no seu caderno?
Marcos Hashimoto
Doutorando em Administração pela EAESP/FGV, sócio-diretor da Lebre Consulting, Coordenador do Centro de Empreendedorismo do Ibmec-SP, Coordenador da Pós Graduação em Empreendedorismo no Uirapuru Superior, colunista no site da Revista Você S/A, foi executivo no Citibank e na Cargill Agrícola.
Fonte: empreender para todos
0 Comentários