Treinar não é castigo, mas sim uma forma nova de aprender
Por David P. Lima Jr
Como líderes, é preciso que treinemos pessoas para atuar como membros de uma equipe. Mas, frequentemente, dispensamos esta prática e acabamos, também, não dando às pessoas nas organizações a responsabilidade de se ajustarem a esses valores. Esse comportamento abre espaço para uma inconsistência e para o ceticismo, abalando a vitalidade de empresas. Há um fato por trás destas afirmações: o indivíduo precisa acreditar no trabalho em equipe, mas tende a atuar individualmente, a retornar para sua zona de conforto.
Em uma pesquisa recente, a capacidade de lidar com pessoas cujo comportamento atrapalha o trabalho em equipe foi apontada como sendo a última habilidade que um líder deve ter para executar bem seu trabalho. Entretanto, o mais curioso é que, no contra fluxo, estes mesmos líderes apontaram dificuldades em promover mudanças nos membros cujo comportamento eles poderiam exercer influência mais prontamente. Um dos motivos pelos quais isto acontece é que os líderes querem ser pessoas admiradas, amadas pelos profissionais com os quais trabalham e temem, quase sempre, um confronto motivado pelo trabalho medíocre ou negligente. O paradoxo está no fato de que os líderes seriam mais respeitados se agissem com firmeza e dessem as más notícias.
Trabalhando com desenvolvimento e treinamento de pessoas há alguns anos, uma coisa me chamou a atenção na última década: as empresas, como um todo, estão preocupadas em fornecer o que há de mais novo, a última palavra, as mais novas tendências mundiais em treinamentos. À primeira vista, não há nenhum mal nisto, afora o fato de que boa parte destas mesmas pessoas que recebem estas "novidades" são, de certa forma, incompetentes para executarem suas tarefas básicas. É indiscutível a necessidade de se treinar os membros de uma equipe. Na verdade é imprescindível.
As questões estão em: quem será treinado, no que será treinado, por quem será treinado e como mediremos ou monitoraremos os resultados deste treinamento. O treinamento deve ser feito sob medida, deve ser preparado por profissionais que tenham a capacidade de avaliar os problemas reais e as necessidades mais prementes de uma equipe. A formação e a experiência de quem fornece o treinamento é, indiscutivelmente, uma exigência que não pode deixar de ser feita. Muitos aventureiros surgiram pelas promessas de ganho fácil no mercado de consultorias e treinamentos e com isso o mercado foi inundado por uma leva de "soluções miraculosas".
Mandar pessoas para treinamentos tornou-se uma espécie de castigo, uma forma de tentar corrigir a direção do trabalho em equipe. Treinamento deve ser encarado com uma forma de chegar lá e não de para onde ir. O indivíduo deve ser treinado como forma de preparação e aprimoramento, e não de correção. Se um indivíduo recebe um treinamento como forma de correção, é bem provável que a liderança também deva ser treinada nos mesmos moldes, afinal de contas as pessoas não abandonam as empresas e sim os líderes.
A história está cheia de exemplos de líderes que levaram suas equipes ao sucesso, muito embora todos à sua volta o alertassem pelo fracasso iminente. No primeiro capítulo do livro "A Arte da guerra", Sun Tzu descreve o momento em que as concubinas prediletas do Imperador perdem a cabeça depois de terem recebido uma ordem para executar as tarefas - que seriam consideradas básicas para um grupo de soldados - e não as terem cumprido. Analisando este momento chegamos a conclusão de que se uma equipe não sabe exatamente o que deve ser feito e como deve ser feito, não fará e, portanto, não estará pronta para receber novas metas, objetivos ou, porque não dizer, novos conhecimentos. Na próxima oportunidade em que for treinar sua equipe lembre-se de verificar se eles estão prontos para receber novos conhecimentos e não deixe de checar a qualidade das empresas e dos profissionais que irão fornecer estes recursos. Treinamento é valorização e não castigo.
Fonte: www.administradores.com.br
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