Por Claudia Penteado
Quem nunca ouviu que para ter sucesso na vida, estabelecer conquistas e – consequentemente – alcançar a felicidade é preciso definir metas, traçar objetivos, delinear propósitos? Mas até que ponto, paradoxalmente, essas metas não têm o efeito contrário e provocam angústia e ansiedade no lugar da tão almejada felicidade? Um estudo da Erasmus University de Rotterdam, na Holanda, e comentado recentemente em um artigo da BBC News Magazine, revelou essa estranha correlação negativa entre a freqüência da menção da palavra “metas” por parte das pessoas e a sensação de felicidade. Segundo o levantamento “World Happiness Database” da universidade, ao contrário do que se pensa – que é preciso ter metas para ser feliz –pessoas que têm metas são mais infelizes do que aquelas que não se mantém tão ligadas assim em objetivos previamente traçados.
Talvez pessoas com metas estejam mais conscientes de sua infelicidade com o estado das coisas, e busquem a satisfação exatamente na mudança. A questão, muitas vezes, é que metas muito complexas ou inatingíveis podem levar à “síndrome da roda de hamsters” – uma sensação de se estar engaiolado e correndo incessantemente sem chegar a lugar algum. E aí?
“O que mais me surpreendeu no estudo foi que ele contradiz algumas crenças que eu sempre tive: a principal delas é que eu sempre, de alguma forma, me pautei por metas. E se por um lado elas me trouxeram sempre uma sensação de saber aonde estar indo, por outro sempre trouxeram uma angústia danada. Será que essa angústia é necessária à realização das coisas na nossa vida?”, questionou um amigo ao tomar conhecimento da pesquisa.
De fato, se pararmos para refletir, parece uma relação natural de causa e efeito o estabelecimento de metas para a vida e a profunda angústia que passa a acompanhá-las, enquanto não as alcançamos. E isso pode levar uma vida inteira. Faz pensar.
Em sua reflexão sobre o mito de sísifo, o escritor Albert Camus disse que há pessoas que morrem porque consideram que a vida não vale a pena ser vivida. E, paradoxalmente, deixam-se matar pelas ideias ou ilusões que lhes dão uma razão para viver. Vale lembrar que sísifo é aquele cara da mitologia grega condenado pelos deuses a empurrar uma pedra morro acima, para vê-la rolar morro abaixo e em seguida tornar a empurrá-la para cima, em um movimento incessante e que simboliza a falta de sentido da existência humana. Sísifo é o herói absurdo. Condenado ao trabalho inútil e sem esperança. Sua tragédia está na consciência eventual da inutilidade de sua eterna tarefa. É a metáfora de Camus da “vida moderna” – os hamsters em seus “empregos” fúteis em fábricas e escritórios.
Outra correlação natural que aparece no estudo é entre experiência, sabedoria – e felicidade. Quanto mais sábia uma pessoa, maior sua capacidade de lidar com frustrações, tristezas, circunstâncias e, por isso, maiores as chances de se estar mais feliz. Isso explica porque pessoas mais velhas costumam ser mais felizes do que as jovens. Quem diria?
Segundo o estudo, importante mesmo é levar uma vida ativa. Ruut Veenhoven, diretor de database e professor emérito das condições sociais da felicidade humana (sim, esse é seu cargo) disse na matéria da revista da BBC que estar envolvido em uma vida ativa é mais relevante do que saber o porque das coisas, e o para quê.
Alguns aspectos da vida tornam as pessoas naturalmente mais felizes: uma delas é sair para jantar. Quantas vezes não temos a sensação de que tudo o que se precisa é simplesmente…sair pra jantar? Com o marido, o namorado, a filha, uma grande amiga? Sair para jantar é movimento, ação. É sair da rotina, do casulo.
Ter um relacionamento amoroso estável também ajuda na tal da felicidade. Comprovado. No fundo, todos queremos uma parceria na vida. Até quando tentamos acreditar que não queremos. Aqui não há necessidade de comentários.
Manter-se ativo – no trabalho, no tempo livre – costuma tornar pessoas mais felizes. Sim, a aventura do ócio é maravilhosa, mas não fazer nada – sequer ler um livro -, costuma ser mesmo uma baita perda de tempo. E não torna ninguém feliz – pelo menos de acordo com o estudo. Melhor encontrar algo de útil para fazer com esse curto espaço que temos na face da terra. Porque passa rápido.
Mais uma descoberta interessante: sair do trabalho e fazer exercício é mais eficiente como vetor de felicidade do que tomar uma cerveja ou relaxar diante da TV. Vida ativa traz mais satisfação. É fato – e quem garante é o professor Veenhoven.
Mas consumir bebidas alcoólicas moderadamente faz feliz, sim. Não, o estudo não é uma ode ao alcoolismo, mas há um item do database que comprova que pessoas que se permitem beber de vez em quando aquela taça de vinho ou degustar uma boa cerveja são sim mais felizes do que as abstêmias. É claro que quem não bebe não deve pirar achando que a hora é essa de começar a beber para ser feliz. Mas quem bebe um pouco, por favor, relaxe e acredite que a chave está no equilíbrio e na moderação – e não na privação. Pelo menos nesse caso.
Boa notícia para os engajados politicamente: o estudo da universidade de Rotterdam também revelou que quem luta pelos seus direitos é sim, mais feliz. Engajamento político traz felicidade. Portanto, ir às ruas – como uma parcela significativa dos brasileiros vem fazendo – traz mais felicidade porque, entre outras coisas, dá sentido de pertencimento a um grupo, ajuda a enxergar o próprio lugar no mundo, estimula reflexões e convicções verdadeiras, capacita a agir no mundo real. Isso faz um bocado de diferença. Ou seja, “vem pra rua”. Mas é preciso sentir. Não basta fazer pose nas redes sociais, não. Pose, definitivamente, não traz felicidade.
E se esse papo todo de felicidade é um pouco cansativo, saiba que estar triste cerca de 10% do tempo é positivo e nos ajuda em vários aspectos: para tomar consciência de certas coisas, e principalmente impedir que cometamos alguns erros. Um pouco de infelicidade muitas vezes consegue finalmente nos tirar da inércia – esta sim, comprovadamente, um dos maiores “depressivos” do planeta.
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