Por Lucy Kellaway
Recentemente Lord Winston, o cientista de bigode grande que adora a mídia, revelou que não gosta de contratar pessoas formadas com as melhores notas. Para ele, é muito melhor recorrer a pessoas que conseguiram notas medianas e não passaram três anos se matando de estudar na universidade. Uma pessoa mais aberta se torna um cientista melhor do que um nerd bitolado que nunca tirou o nariz de uma biblioteca.
Li isso com prazer durante o café da manhã. Como detentora do grau de formatura favorito de Lord Winston, vi grande sabedoria no que ele disse. Certamente é encorajador. Mas será que está certo? Para descobrir, mandei um e-mail atrevido para 40 funcionários graduados do "Financial Times" querendo saber com que faixa de notas eles se formaram. Os resultados não foram bem aqueles que eu esperava.
O "FT" está cheio de gente que Lord Winston desaprovaria: quase metade dos funcionários mais graduados se formou com as melhores médias de notas. Isso não é uma surpresa. Estranho é quem conseguiu as melhores notas e quem não conseguiu. Não importa o fato de eu ter tido décadas para avaliar a inteligência de meus colegas - fui ruim nas previsões. Só acertei em alguns casos óbvios.
Meu teste mostra que aqueles que tiveram as melhores notas não são jornalistas melhores nem piores do que aqueles que não conseguiram notas tão boas. Pode haver uma ligeira tendência - aqui estou falando por conta própria - de aqueles com notas menores serem melhores em originalidade e humor, e os que conseguiram as melhores notas serem melhores em termos de consistência e rigor.
Mesmo não sendo uma cientista famosa, posso afirmar que há três coisas que criam alguém que termina a faculdade com as melhores notas: trabalho duro, capacidade mental e sorte. Assim, você pode ser um aluno "CDF", "cabeça" ou "sortudo" - e todos são diferentes.
O mesmo se aplica a outras faixas de notas. Eu era uma infame CDF mediana - passava muito tempo na biblioteca, um período de tempo um pouco menor no pub e o resto dele escondida em meu quarto. Eu não tinha interesses diversificados, embora no primeiro ano de faculdade tenha dado uma aula a alunas da graduação sobre como fazer tricô. Portanto, eu represento o pior de todos os mundos para Lord Winston - uma "CDF" limitada que nunca teve as melhores notas. Mas e daí? Acabei me tornando um exemplo muito bom.
A coisa mais reveladora sobre as respostas que obtive foi a maneira como elas responderam. A primeira indicação disso foi a ligação entre o grau das notas e a velocidade de resposta. Quanto maiores as notas, mais pressa as pessoas tiveram para me informar. A resposta mais rápida foi de uma pessoa que ficou surpresa que eu pudesse ter alguma dúvida sobre suas notas altas. "Adivinha só!", respondeu ela por e-mail. As pessoas com notas menores demoraram mais para responder. Algumas simplesmente mandaram um e-mail com a média das notas, mas a maioria enviou mensagens longas explicando por que não se saiu melhor. Uma doença. Gostar demais de se divertir. Tempo demais dedicado aos esportes.
Uma delas respondeu: "Me formei com notas medianas (mas com notas máximas em rugby e cricket)". Outra chegou a me informar as notas exatas que teve em diferentes provas, para provar que sua média inferior era uma aberração estatística.
Isso tudo não é porque somos jornalistas inseguros. Essa obsessão com notas é uma falha, especialmente grande (imagino) entre as pessoas que foram para Oxford. Há poucos dias entrevistei o arcebispo de Canterbury e senti que ele precisou me dizer que não se esforçou muito para se formar pela Universidade de Cambridge com uma média de notas um pouco mais baixa. Vejo agora que foi uma loucura termos perdido tempo falando disso. Desde que se formou, ele vem provando sua inteligência todos os dias.
O mesmo se aplica para o resto de nós. E mesmo assim, continuamos totalmente obcecados em relação a uma semana de testes que fizemos há 10, 20, 30 e até mesmo 40 anos atrás. É uma insanidade. Imagino que isso acontece porque: a) para a maioria das pessoas, o exame de formatura é a última vez que recebemos uma nota objetiva; b) ninguém pode tirá-la de nós; e c) o sistema de notas das universidades britânicas é estúpido.
Assim, a escolha dos patrões está em escolher entre alguém que tem um pequeno ressentimento por causa das notas inferiores ou alguém que se sente membro vitalício do clube das pessoas inteligentes, por causa das boas notas. Uma amiga que contrata estagiários diz não gostar daqueles que têm as melhores notas por este motivo: "Eles têm uma visão sobre sua própria inteligência da qual eu posso não compartilhar".
Mas mesmo ela não cria regras rígidas sobre isso. Encontrar a pessoa certa para um emprego é tão difícil que a única coisa sensata a fazer é não ter regras. Não contratar pessoas com as melhores notas na faculdade faz tanto sentido quanto não contratar pessoas que usam bigode.
Fonte: valor.com.br
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