Um novo estudo diz que as decisões de carreira que as mulheres tomam ao longo da vida têm impacto negativo na remuneração delas
Por Lucas Rossi
Um estudo recente feito pelos professores de gestão Matthew Bidwell, da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e Roxana Barbulescu, da Mcgill Univeristy, de Montreal, no Canadá, propõe uma nova discussão para entender a diferença salarial entre homens e mulheres, que no Brasil chega a 28%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com os pesquisadores, a questão da remuneração está diretamente ligada às escolhas que os profissionais fazem ao longo da carreira. "Se você quer entender por que elas ganham menos, precisa entender as decisões de carreira que elas tomam", afirma Matthew.
A maioria dos estudos até então analisava por que as empresas não contratavam mulheres para determinados cargos ou não as promoviam com a mesma frequência que seus pares do sexo masculino.
A pesquisa de Matthew e Roxana analisou para quais vagas 1 255 profissionais, entre homens e mulheres que estavam concluindo o MBA em universidades renomadas dos Estados Unidos, candidatavam-se.
"Todos estavam no mesmo nível de preparo e eram profissionais que teriam a opção de escolher cargos muito bem pagos", diz Matthew. A conclusão foi que, na verdade, as mulheres ganham menos porque, muitas vezes, escolhem seguir carreiras diferentes das dos homens.
Para decidir os empregos aos quais elas se candidatam, pesam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, a percepção de que elas não teriam sucesso em áreas com estereótipo bastante masculino ou a simples falta de identificação com determinadas áreas.
Carreiras que exigem viagens, por exemplo, não são atrativas para elas. Isso porque as mulheres entendem que viajar constantemente é um empecilho para cumprir importantes papéis sociais, como o cuidado com os filhos e as tarefas domésticas.
O mercado financeiro também não é dos mais atraentes na visão das profissionais. Ainda que ofereça altos salários, é percebido como muito estressante. "Elas preferem ficar onde estão na carreira a alcançar um nível mais alto e perceber que não conseguem conciliar vida pessoal e profissional", diz Regina Madalozzo, professora e especialista em economia do gênero do Insper, de São Paulo.
Um terceiro fator que afeta as decisões de carreira das mulheres é a falta de identificação delas com algumas empresas.
A cultura corporativa ainda é percebida como essencialmente machista, embora mais companhias já tenham políticas de diversidade e meritocracia para atrair e valorizar as mulheres em seus times. "As mulheres têm a impressão de que não conseguirão transitar em um ambiente muito masculino", diz Matthew.
Pode mudar
No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por amostra de domicílios (Pnad), enquanto 34,9% das mulheres brasileiras têm mais de dez anos de estudo, entre os homens esse dado é de 31%.
São justamente esses anos a mais de estudo que podem mudar o cenário em um futuro próximo. A jornalista Hanna Rosin, editora sênior da revista The Atlantic, estudiosa da questão feminina e autora de The End of Men and the Rise of Women ("O fim dos homens e a ascensão das mulheres", ainda sem tradução no Brasil), explica que a atual economia busca profissionais com boa formação, que consigam se concentrar com facilidade e tenham boa comunicação.
"Nesse cenário, os homens ficam estagnados, enquanto as mulheres aproximam-se dos empregos que demandam mais habilidades, pois elas fazem isso extremamente bem", diz Hanna em sua palestra no TED Talks.
Em tese, esses postos de trabalho seriam os que pagam melhor. Claro que essa ideia pressupõe que os salários pagos a homens e mulheres sejam iguais, algo que não acontece hoje, como mostra o estudo do IBGE.
Ainda faltam histórias de mulheres que ocupem a presidência de empresas nos mais diversos setores, inclusive naqueles em que os homens são maioria. No Brasil, menos de 10% dos postos de presidente são ocupados por mulheres.
Com isso, as profissionais não têm em quem se inspirar para planejar sua carreira. Mesmo que muitas companhias já demonstrem estar preocupadas, falta um ambiente favorável às demandas femininas, como a maternidade, por exemplo.
"Não basta contratar mais mulheres. A cultura da empresa é que precisa mudar", diz Matthew. O mais importante, na opinião dos pesquisadores, já está sendo feito: mostrar que existe uma diferença. Talvez elas escolham outras trilhas na carreira, mas já estão no caminho.
A carioca Melanie Healey, de 50 anos, já figurou na lista das mulheres mais poderosas do mundo das revistas americanas Fortune e Forbes. Ela é presidente da P&G há cinco anos, responsável pelos mercados americano e canadense da companhia, que é líder mundial de bens de consumo.
A região representa 40% de sua receita total, de cerca de 32 bilhões de dólares. Casada e mãe de dois filhos (Nicholas, de 18 anos, e Jacqueline, de 17), ela conta que para entrar na P&G, em 1990, teve de dar um passo atrás na carreira, pois já tinha posição de liderança na Johnson & Johnson.
Desde então, assumiu várias funções até chegar ao posto de número 1. "Eu trabalho, em média, 12 horas por dia, de segunda a sexta-feira. Acordo às 6h, tomo café da manhã e depois acordo meus filhos. Pelo menos três vezes por semana faço 30 minutos de exercícios. Depois, preparo o almoço que minha filha leva para a escola e vou para o escritório.
As minhas reuniões costumam começar às 8h30. É uma atrás da outra até as 17h30. Respondo aos e-mails até as 19h e daí vou jantar com minha família. Em casa ainda trabalho mais um pouco, até às 23h." É a vida de quem escolheu estar no topo.
Fonte: exame.abril.com.br
Fonte da imagem: Clique aqui
0 Comentários