Autor: Luciano Pires
Rosivaldo está noutra reunião monótona, focada na eficiência operacional e no curto prazo. Os verbos são REDUZIR, CORTAR, CONTROLAR…
Nada nutritivo, divertido ou objetivo.
A reunião é um duelo de egos, de inexperiência, de submissão ao regime autoritário do controle.
Na parede:
“Pessoas são nosso ativo mais importante.”
“Exceder as expectativas dos clientes”
“Cidadania e responsabilidade social”.
A distância entre o texto da placa e o conteúdo da reunião é colossal.
Rosvaldo se lembra de Cabral com seu mapa, seguindo para as Índias e chegando ao Brasil. Para que terá servido o mapa?
Quinta hora de reunião. Repentinamente a discussão esquenta e ele nota brilho nos olhos quando um assunto deixa a discussão operacional e passa para o exercício do sonho…
- E se…?
Mas a mágica dura pouco. O momento criativo reduz-se a uma linha numa folha. Alguém vai reunir mais dados, fazer mais uma pesquisa e trazer para a discussão. No mês que vem. Ou nunca mais.
Sexta hora. Os olhos ardem com o ar condicionado viciado.
Tanta gente inteligente reunida…por que o resultado da reunião não é brilhante? Por que aquilo não é um time? Talvez porquê cada um está pensando no seu, não no “nosso”.
Epa!
Agora aquele ali, previsivelmente, começa a repetir tudo o que havia sido tratado na reunião do mês anterior. E o grupo entra no jogo e começa a discutir o passado…
Sete horas.
Pausa para o xixi.
- O que é que eu estou fazendo aqui?, pensa Rosvaldo.
- Urinando, imbecil!
Rosvaldo olha assustado. Está só no banheiro… quem falou?
- Eu!
É o cara no espelho! Com uma expressão de alguém que está exaurido psicologicamente.
- Rosvaldo, como é que você aguenta, hein?
- Ué…faz parte dos negócios!
- É esse o negócio que você queria?
- Não!
- Então como é que você aguenta?
- Pô, tenho família pra sustentar !
- Não, meu caro, você aguenta por que esta situação lhe é familiar. E isso dá uma sensação de… controle!
Controle… Controlar….
Nona hora, termina a reunião. Ninguém mais tem energia. Poderia ter durado 4 horas. Ou 3… O que faltou para aquele grupo de gente inteligente?
A pista está naquele breve momento em que os olhos brilharam:
i-ma-gi-na-ção.
Imaginação liberta.
Controle prende.
Imaginação motiva.
Controle tolhe.
Imaginação cria.
Controle repete.
Mas imaginação não brota em terreno adubado com controle. A não ser para criar formas de driblar o controle…
A falta de imaginação leva a situações onde o controle parece ser a única saída. E sendo o controle tangível, mensurável, familiar, é adotado como a tábua da salvação. E dá-lhe ISO e outros programas e modismos com siglas velhas e novas, no fundo adotados como saída para a incompetência de quem sofre de falta de imaginação.
Discute-se o processo para compensar a falta de talento.
Talento!
Terá sido esse o problema daquela reunião de 9 horas? Falta de talento?
Não, meu amigo.
O problema é o excesso de controle. Que não deixa espaço para o talento. Que sufoca a imaginação.
- Como é que você aguenta? Repetiu o cara no espelho.
- Nem imagino, disse o Rosvaldo…
Luciano Pires
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