Desde pequenos somos acostumados com a ideia de que quanto mais soubermos, melhores seremos; mas o sucesso também depende de não sabermos algumas coisas
Por José Roberto Ferro
O diretor de pesquisa e desenvolvimento de uma empresa é reconhecido como um dos maiores especialistas nas tecnologias centrais desse negócio. Esperar-se-ia, portanto, que essa empresa tivesse uma elevada taxa de sucesso em novos produtos e processos. Na verdade, não é isso que ocorre. Por que será?
Porque ele tem dificuldades em dizer “não sei” e em perguntar “o que você acha?”
É que desde pequenos somos acostumados com a ideia de que quanto mais soubermos, melhores seremos. Na escola, queremos ser os primeiros a levantar a mão e responder as perguntas dos professores. O mais rápido e o que consegue acertar as questões tende a ser valorizado e reconhecido como o mais inteligente. E, portanto, melhor. Os melhores tendem a entrar nas melhores universidades e esse comportamento é repetido.
No processo de seleção das empresas melhores e mais competitivas, a busca pelos melhores talentos é sempre árdua com diversos testes de conhecimento e capacidade para tentar identificar os melhores que, assim, recebem as melhores ofertas de trabalho.
Desse modo, valoriza-se mais quem sabe mais. Na medida em que as pessoas se movem na hierarquia, tende a haver uma relação direta entre saber e o cargo ou a posição.
Nas empresas, repete-se esse comportamento de que sobe na hierarquia os que sabem tudo, conhecem tudo, ou ao menos os que dão essa impressão.
Valorizam-se os cursos do tipo MBA e programas de qualificação e hierarquização, com base em conhecimento ou, ao menos, horas de treinamento, como os programas seis sigma. As pessoas assumem posições de comando na expectativa de serem mais bem pagas para responder tudo e para comandar os outros.
Esse sistema meritocrático é certamente muito melhor do que aqueles baseados em vínculos pessoais ou em outros critérios menos objetivos.
Porém, engana-se quem acha que tudo sabe. Isso não é possível. As situações de trabalho são complexas não apenas porque, do ponto de vista técnico, as soluções nem sempre são óbvias; mas também, do ponto de vista social, nem que isso fosse possível, estaríamos perdendo uma oportunidade enorme de capturar as sugestões, contribuições e soluções de todos.
A hierarquia moderna tende a estar baseada na meritocracia, mas com fortes pitadas de relações sociais e de poder. As empresas acreditam que com esse sistema serão melhores os resultados. Porém, os melhores líderes e gestores são aqueles que escutam, têm a humildade de reconhecer que pode haver sempre uma solução melhor que venha de outras ideias ou do consenso. E cremos que os resultados serão melhores. De qualquer modo, nossas pretensas soluções serão sempre hipóteses que serão testadas na prática.
O diretor mencionado é incapaz de ouvir as outras pessoas, quer sejam seus colaboradores quer sejam seus colegas das áreas de vendas e de produção. Com isso, o desempenho da área não é adequado, com poucos produtos sendo lançados e os que são não têm o sucesso esperado. Ele culpa a área comercial por não ter capacidade de entender as novidades ou a área produtiva, por não ter capacidade de lidar com esses novos projetos. E, assim, o que poderia ser uma empresa bastante inovadora torna-se uma empresa demorada e ineficaz nos lançamentos.
Reconhecer que o trabalho de um líder ou gestor envolve a conscientização de que estarão sempre aprendendo juntos, como todos os colegas e colaboradores, torna esse líder ou gestor muito mais capaz de engajar as pessoas na busca de soluções e a conquistar melhor desempenho. Trata-se de uma verdadeira lição de humildade.
Não somos acostumados a dizer “não sei”. Aliás, essa expressão tende a ser vista como um sinal de fraqueza ou incompetência. Mas é a pura verdade, muitas vezes. Parece ser preferível enrolar e enganar, se possível.
E por que não perguntar: “O que você acha?”, como forma de procurar incorporar as ideias e pensamento dos outros?
É preferível ter a humildade suficiente para reconhecer a ignorância do que iludir-se e ser pretensioso, achando que tudo sabe. Será melhor para o desempenho da empresa.
Fonte: epocanegocios.globo.com
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