Entre as propostas relacionadas pelo especialista Peter Skarzynski está a extinção das chefias fixas.
Por Natália Flach
Inovação é o casamento entre criatividade e disciplina, e, assim como na vida real, é mais fácil na teoria do que na prática. Peter Skarzynski, especialista no assunto e sócio da itc, elenca sete passos fundamentais para acrescentar o sobrenome de inovadora à uma empresa.
O primeiro é adquirir conhecimento sobre o segmento de atuação e repensar o modelo de negócios, a partir da necessidade dos consumidores. Outro passo extremamente importante é transformar o trabalho em algo divertido.
A consequência será o maior engajamento dos colaboradores, ou seja, aumento de produção. "Claro que todos temos dias ruins ou até semanas ruins. Mas, no geral, o trabalho deve ser um lugar agradável de ir", afirma em entrevista exclusiva ao Brasil Econômico.
Também é importante aumentar o círculo de contatos e pensar em novas formas de organização dentro da empresa. Nesse sentido, diversas companhias têm lançado fundos para premiar ideias.
Já no caso da Semco, o objetivo foi dar fim à estrutura convencional da companhia. Na empresa de equipamentos industriais e soluções para gerenciamento postal e de documentos, não existem mais os cargos executivos.
Na verdade, são escolhidos líderes para cada projeto. Caso tenham bom desempenho, são mantidos na função até a conclusão do projeto. Caso contrário, outro colaborador é nomeado líder.
"Isso não significa a demissão do líder que não foi muito bem. Significa que, naquele projeto, ele não teve muito sucesso."
A IBM, por sua vez, apostou que os seus colaboradores poderiam ser fonte de inovação - que é o quarto passo elencado por Skarzynski. Segundo o especialista, a companhia criou um concurso de ideias entre os 300 mil funcionários para solucionar problemas. Resultado: foram investidos US$ 100 milhões em melhorias e 10 novos negócios foram criados.
Por fim, a dica é confiar nos funcionários e dar poder a eles para tomarem decisões. Assim, os problemas são resolvidos com mais facilidade e há ganhos de autoestima na equipe.
Na BestBuy, por exemplo, os colaboradores podem trabalhar no horário em que produzem mais - seja de madrugada ou de manhã - contanto que entreguem os projetos no prazo combinado. "Também é importante abraçar valores como liberdade, abertura e meritocracia."
Skarzynski enfatiza que a inovação deve ser algo sistematicamente buscado. "Tem de se entender o que impede a inovação de fluir. Inovação não tem de vir de cima, do presidente ou diretores. No caso da Shell, foram os funcionários do meio da organização que apontaram o caminho tecnológico que deveria ser seguido. Inovação é desafiar-se, ter persistência, aprender uns com os outros e não ter vergonha de pedir ajuda quando não se consegue avançar."
Questão cultural
Segundo Skarzynski, o Vale do Silício continua sendo um local propício para criação de empresas novatas (startups), mas os impostos caros estão aparecendo como um entrave para a inovação. Isso, aliado ao fato de que novos centros de desenvolvimento estão surgindo, pode fazer com que haja uma "mudança na onda de tecnologia". "A Califórnia está perdendo habitantes", conta.
Em outros lugares do mundo, porém, há problemas judiciais com respeito a patentes. "Além disso, a questão cultural é muito forte. Na Coreia do Sul, por exemplo, o respeito à hierarquia é cultural. Não dá para romper com isso sem que seja desrespeito."
O governo, nesse sentido, também tem papel importante no que se refere a criar um ambiente propício para inovação.
"O governo atua de forma benéfica quando tem regulação de patentes e incentiva com descontos fiscais para startups. No entanto, faz um péssimo trabalho quando elege um setor para receber os benefícios. O que garante que aquele setor será o mais importante daqui a 10 anos? Que dados comprovam isso?", questiona.
Skarzynski diz ainda que os fundos de venture capital e private equity estão investindo como nunca em startups. "A globalização tem permitido que o dinheiro chegue a cantões do mundo."
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