Advertisement

Responsive Advertisement

A Tendência Generalista

Maiara Tortorette


Tempos atrás acreditava-se que apenas aqueles que tivessem profundo conhecimento em sua área pudessem alcançar o sucesso profissional. Para ser respeitado e requisitado no mercado, o profissional deveria ter graduação, pós-graduação e cursos de especialização, tudo com o mesmo foco. No entanto, o mundo mudou, as necessidades das empresas mudaram, e aquele profissional que sabia apenas sobre determinado assunto teve que se adaptar e conhecer de tudo um pouco para se enquadrar nas exigências das organizações. E esse executivo, que antes era especialista, acabou se tornando generalista.

Mas como podemos definir esse profissional? Para muitos eles são considerados “crânios”, pois conseguem armazenar uma grande quantidade de informações e se destacam na maioria das atividades que se propõem a fazer. Já na opinião de outros, são profissionais que possuem “ralos” conhecimentos sobre diversos assuntos e ao mesmo tempo não sabem muito sobre algo específico. Mas independente dessas definições, o que notamos atualmente é que o mercado está em transição e já é visível uma tendência generalista nas empresas, que cada vez mais procuram reduzir seus custos e ampliar resultados.

Para Kleber Santiago, sócio da Directa Consultoria Empresarial, o generalista possui uma visão ampla de tudo que acontece a sua volta. É extremamente antenado e possui características fundamentais para um profissional de sucesso. “O mercado demanda cada vez mais por profissionais com visão macro do mundo e capazes de relacionar diversos elementos que envolvam pessoas, materiais, recursos disponíveis e indisponíveis, onde se conheça cada área e setor da empresa e que esteja sempre prestes a atuar no que for necessário. É importante ter criatividade, flexibilidade, ser comunicativo, despojado de preconceitos e hábil negociador. Precisa também ter espírito crítico, saber ouvir mais do que falar, possuir raciocínio lógico aguçado, ter facilidade com números e ser dotado de elevado senso de justiça. São essas características fundamentais para uma pessoa generalista”, explica.

Até há pouco tempo, era visível o preconceito com relação a esses executivos no mundo corporativo, vistos como não mais que um “quebra galho”. O generalista era aquele incapaz de participar de um grande projeto ou de conquistar cargos de liderança, pois não conhecia nenhuma área de forma aprofundada. No entanto, com o passar do tempo, conquistou seu espaço, tornando-se o que é hoje: um modelo de profissional requisitado pelas empresas, por suas características, seu interesse e competências.

“Eu prefiro dizer que se tratam de profissionais com talentos expandidos, do que citá-los como generalista. Pois nessa segunda menção ele pode ser comparado a um pato: nada mal, voa mal, anda mal, mas faz tudo. Enquanto na verdade esse profissional focou no desenvolvimento das competências e ampliação do seu escopo de visão gerencial, do que antecede e o que sucede nos processos. Isso é vital para qualquer profissional moderno”, defende Jose Luiz Tejon, palestrante, escritor e Professor de Pós Graduação FGV/ESPM. Para Tejon o generalista precisa nascer de um especialista para alcançar sucesso em sua carreira. “É importante começar com profundidade e amor em algo pontual, sendo muito bom no que faz. A partir daí, com a evolução na gestão, precisamos ampliar nossos talentos gerais”.

Fernando Henrique da Silveira Neto, especialista em desenvolvimento gerencial, acredita que os especialistas são extremamente bons naquilo que fazem, no entanto não demonstram flexibilidade. Muitas vezes as empresas necessitam que uma só pessoa resolva mais de um problema, e é nesse momento que o generalista entra em ação. “Hoje nós definimos esse tipo de profissional como generalista, mas eu diria que são pessoas que possuem um conhecimento a mais, que não entende apenas do seu trabalho, mas sim de diversas outras áreas. Hoje uma empresa monta um grupo de trabalho com pessoas de finanças, recursos humanos, informática e tecnologia, por exemplo, e se esses profissionais são muito especializados, e não se interessam por nada além daquilo que executam, eles não conseguem conversar entre si. E isso é muito comum no dia a dia das empresas, pois muitos especialistas acabam indo para sua área de conforto”.

“Uma coisa fundamental: Se o "cara" era técnico, por exemplo, ele tem que aprender a lidar com pessoas. Muita gente que trabalha apenas com máquinas não tem essa vocação. Então de nada adianta se tornar um generalista se você não saber lidar com outros profissionais”, completa Fernando. “Eu conheço especialistas que realmente não sabe se comunicar com as pessoas, então preferem continuar na sua bancada, fazendo suas coisas. Se ele se propor a algo que não consegue de fato, poderá abrir um vácuo em algo que ele era muito bom e preencher mal o espaço onde está sendo chamado”, conclui.

De acordo com a visão de Kleber o especialista ainda possui grande valor no mercado, principalmente em áreas mais técnicas, que exige conhecimentos mais aprofundados, no entanto para ocupar cargos de gestão, o perfil generalista se tornou o mais adequado. “Se perguntarmos aos headhunters experientes quais são os profissionais mais desejados pelo mercado, ponderando entre aqueles altamente especializados em uma determinada área ou aquele que tem uma visão geral da empresa, observaremos que os executivos especialistas ainda são muito procurados em determinadas funções mais especificas, como Vendas, TI, Remuneração, Engenharia. Mas por outro lado notamos que a grande maioria só consegue ascensão quando se torna generalista. Ou seja,atualmente para alcançar patamares como Diretores e CEO´s é fundamental que o profissional traga consigo essa visão”, afirma.


Especialista ou generalista?


Embora o generalista tenha invadido o mercado por completo, o especialista ainda é preterido em diversas situações. Muitas vezes é necessário que se conheça algo por completo e que exista uma atualização constante sobre determinado assunto, já que o mercado gira em uma velocidade extremamente feroz. Nesses casos o executivo que cuida de várias áreas, ou que realiza atividades distintas, não consegue acompanhar e acaba conhecendo apenas o superficial, enquanto o especialista ganha vantagem.

“O especialista sempre vai existir, tudo depende da necessidade. Eu nunca mandaria meu computador para ser mantido por um generalista. Existem atividades que precisam de alguém mestre na área, uma pessoa que entenda disso profundamente”, exemplifica Fernando. “Mas, a tendência nas carreiras pelo que eu vejo é o generalista ter mais espaço. Porque ele vai ter que trabalhar com todos os seus técnicos que são de áreas diferentes, com talentos de áreas diferentes. Eu acho que existe espaço para os dois, mas eu tenho visto um grande espaço nas empresas para profissionais que tem uma visão maior e que apresentam possibilidade de mudança, de olhar o todo. Eu não vejo como presidente de empresa, aquele que tenha sido apenas um grande técnico de informática, ou o grande profissional de finanças”, complementa.

Kleber acredita que ambos devem trabalhar juntos e que o equilíbrio traz melhorias nos resultados apresentados . “Os generalistas tem de entender que não são melhores do que os especialistas e que precisam, e muito, do apoio deles. Generalistas tem necessidade de articular com especialistas dentro de sua organização, porque as suas competências não são perfeitas em cada área. Especialistas passam anos construindo seus conhecimentos, enquanto generalistas flutuam. A combinação dos dois é poderosa e é esse o ponto que deve ser almejado, o foco é essa combinação que exige uma habilidade de comunicação superior do generalista, pois, caso contrário ele gera mais conflitos do que contribui”, conclui.

“Na minha visão ambos são importantes. É como montar um time. Uma equipe que precisa de todos nos lugares certos. O maior segredo é amar profundamente o seu trabalho. Sem a paixão pelo que você faz, jamais será sensacional, nem como especialista, muito menos como generalista pós especialista”, finaliza Tejon.


Fonte: A tendência generalista - - 389ª Edição
Carreira & Sucesso

Postar um comentário

1 Comentários

brazroso disse…
Muito interessante o artigo, realmente, no mundo atual, com toda diversidade de atividades,o profissional volátil terá maiores chances de progressos, as mudanças são tão constantes, porém nem todos têm a facilidade de acompanhamento, independente da formação, é um dom natural o da percepção.