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A Terceira Inteligência


por Floriano Serra

Há anos, através de livros, artigos e palestras, venho falando repetidamente sobre a Terceira Inteligência que, em todos os segmentos da vida, propõe outros crivos comportamentais além daqueles da razão e emoção. Volto a fazê-lo aqui, motivado pela crise que assola o mundo e que se tornou assunto de todas as horas e justificativa para a maioria das mazelas que vêm ocorrendo no planeta. Como se sabe, essa crise econômica, a pior desde a década de 30, nasceu da ganância, egoísmo e falta de ética de alguns íntimos da Wall Street e que, apesar da enorme quantidade de gurus e experts em economia que surgem por aí, não foi nem de longe prevista ou imaginada, pegando o mundo de surpresa.

Um enfoque que não se costuma ler e ouvir nas análises dessa crise é o de que ela nasceu exclusivamente de motivações emocionais e racionais – e por isso deu no que deu. A condição humana de ser emocional e racional é maravilhosa, mas não assegura isoladamente a paz e a evolução da raça. Quando mal direcionadas, as ações motivadas exclusivamente pela emoção buscam o prazer/poder ou a fuga de problemas/punições. Nesses casos, o comando para a ação (ou para a falta dela) é: “Faço porque me agrada, porque quero” ou “Não faço porque não me agrada, não quero”.

Se alguém faz coisas ou toma decisões apenas porque lhe agrada ou porque quer, não haverá garantia alguma de que essa ação ou decisão será boa também para as outras pessoas, à sociedade ou ao mundo. Apenas refletirá a ambição e o egoísmo pessoal e assim não será saudável, legal, ético nem útil para os demais. Alguém poderá contra-argumentar: “Ah, mas é justamente para evitar isso que existe a racionalidade! Se unirmos as duas inteligências, a racional e a emocional, então teremos a ação ideal, certo?”. Errado.

O processamento racional do conhecimento e das informações nos conduz à ação dita “lógica”, induzindo-nos a fazer aquilo que nos convém ou que é de nosso interesse, e não necessariamente ao que é legal, ético e saudável para as demais pessoas e comunidades – e essa crise é a maior prova disso. As grandes fraudes divulgadas foram as mais cerebrais e inteligentes possíveis, tanto que levaram um tempo enorme para serem descobertas.

Essencialmente, razão e emoção não têm moral nem ética, porque, patologias à parte, sua dinâmica de ação surge desse binômio: “Isso me interessa” ou “me convêm”, “me agrada” ou “me satisfaz”. Falta um terceiro crivo que lhe dê positivismo.

O crivo que está faltando é o da avaliação das consequências da ação ou decisão para com o outro, seja amigo, parente, colega de trabalho, mercado, comunidade, sociedade, nação, etc. É a esse crivo que venho chamando de Terceira Inteligência, que é a faculdade que o homem tem de sobrepor à razão e à emoção uma outra essência que dá transcendência as suas ações e um sentido de direção voltado para o bem-estar próprio e dos outros, ou seja, uma postura de vida necessariamente ganha/ganha.

Esse terceiro crivo comportamental, o que decide a qualidade da ação ou decisão, venho chamando (na falta de melhor expressão) de espiritual – apesar de nada ter a ver com práticas e conceitos religiosos ou doutrinários, como algumas pessoas podem supor. Essa dimensão espiritual, que infelizmente permanece em estado latente na maioria dos indivíduos, convive com a razão e a emoção, mas pouco interage com elas. Tem a ver com o desejo voluntário e pessoal de compartilhar o bem pela consciência de que tanto uma família, equipe, empresa ou bairro quanto a sociedade e o mundo inteiro são partes de uma grande família, o que torna todos responsáveis pelo que ocorre no planeta.

A Terceira Inteligência é simples assim. Ela se sobrepõe a conveniências pessoais e a interesses meramente econômicos e materiais e caracteriza suas ações sobretudo pela generosidade, ética e respeito ao próximo, de forma desprendida, exceto pelo desejo de ser útil. É ela que nos faz “transcender o ego”, como diz Deepak Chopra, fazendo-nos substituir a pergunta: “O que ganharei com isso?” por “Como posso ajudar?”.

Existem várias causas que dão origem às crises, mas aquelas provocadas por questões de ética, moral e caráter certamente não existiriam sob a égide da Terceira Inteligência.

Nas empresas, por exemplo, a liderança ou o modelo de gestão que se fundamentar na Terceira Inteligência, terá colaboradores muito mais comprometidos, motivados, felizes e, consequentemente, mais produtivos. Durante cinco anos, como diretor de recursos humanos de uma indústria farmacêutica, tive a oportunidade de vivenciá-la na prática, e funcionou perfeitamente tanto que, através de duas conhecidas pesquisas nacionais, a companhia foi eleita pelos próprios funcionários, durante cinco anos consecutivos, “uma das melhores empresas para se trabalhar no Brasil”.

Mas enquanto não forem mudados os critérios de sucesso e poder na sociedade e no mercado, não será fácil vender-lhes a ideia da Terceira Inteligência, paciência. Nem por isso deixarei de continuar fazendo minha parte, plantando essas sementes por aí. Em algum lugar e momento, surgirão outros terrenos férteis e então ouviremos muito menos falar-se em crises como essa.

Sonhar não custa nada.

Fonte: Portal VendaMais

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