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Aprendendo a Observar

por Stephen Kanitz
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O primeiro passo para aprender a pensar é aprender a observar, e isto curiosamente não é ensinado. Hoje, nossos alunos são proibidos de observar o mundo, quase sempre trancafiados numa sala de aula, estrategicamente colocada bem longe do dia a dia e da realidade. Não aprendemos a observar porque nossas escolas nos obrigam a estudar mais os livros do que a realidade que nos cerca. Hoje observar, significa ler o que os grandes intelectuais do passado observaram, gente como Rousseau, Platão ou Marx.

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Só, que até eles seriam os primeiros a dizer "esqueçam tudo que eu escrevi" se estivessem vivos hoje. Na época não existia internet, empresas de capital democrático nem computadores. Eles ficariam chocados se soubessem que nossos alunos são impedidos de observar o mundo que os cerca, e obrigados a ler os livros que eles escreveram de 200 a 2000 anos atrás. Isto leva os jovens a se sentirem alienados do mundo atual, confusos e sem respostas coerentes com a realidade. Ensinar a observar deveria ser a tarefa número um da educação.
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Lamento dizer que quase a metade das grandes descobertas científicas surgiu não da lógica e do raciocínio, mas da simples observação, auxiliada muitas vezes por novos instrumentos, como o telescópio ou o tomógrafo, ou novos algoritmos matemáticos. Ensinar a observar não é fácil. Primeiro você precisa eliminar os preconceitos, ou pré-conceitos, que é a carga de atitudes e visões incorretas que nos impedem de enxergar o verdadeiro mundo. Eu não leio mais autores impregnados de ideologia, por exemplo, seja de direita ou de esquerda. Ensinar a observar é a primeira condição para termos jovens com pensamento independente e opinião própria, aptos para lidar com os problemas de hoje, não os de ontem. Todos os autores do passado não enxergaram o mundo de hoje, algo muitas vezes esquecido pelos leitores.
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Eu me formei em Contabilidade e Administração. Contabilidade me ensinou a observar primeiro, opinar depois. Ensinou-me o rigor da observação, da necessidade de dados corretamente contabilizados, a medir resultados, a recusar achismos e opiniões pessoais. Aprendi também estatística e probabilidade, o método científico de se chegar a conclusões, e que nunca teremos certeza de nada. Em Harvard, os estudos de caso de administração vinham repletos de observações, e tínhamos que determinar quais eram relevantes, quais eram simples ruídos, que observações estavam faltando, quais confiar e quais duvidar.
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Ensinaram-me a gastar mais tempo observando do que pensando. Mas aprendi tarde, tudo aquilo deveria ter sido me ensinado muito antes da faculdade. Se eu fosse Ministro da Educação criaria um curso de Técnicas de Observação, obrigatório, quanto mais cedo na escala educacional melhor. Incentivaria os alunos a estudarem menos e observarem mais, e da forma correta. Um curso que apresentasse as várias técnicas e treinasse os alunos a observarem o mundo de várias formas. Normalmente se ensina uma única forma de observar, a do professor.
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Como exercícios de observação poderíamos sugerir, por exemplo:
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1. Pegue uma cadeira de rodas, e vá para escola por uma semana e sinta o que é a vida de um deficiente físico no Brasil.
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2. Coloque uma venda nos olhos, e observe o mundo como os cegos nos observam.
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3. Escolha um vereador qualquer e observe o que ele faz ao longo de uma semana de trabalho. Descubra quanto ele ganha por isto.
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4. Torne-se o contador de sua família por um ano. Registre todas as receitas, e despesas da família. Verifique se há superávits, caso contrário faça a projeção de quando a sua família irá falir. Faça o mesmo com as contas do governo.
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Quantas vezes não participamos de uma reunião e alguém diz: vamos parar de discutir, no sentido de pensar, e tentar "ver" o problema de um outro ângulo. Se você realmente quiser ter idéias novas, ser criativo, ser inovador, aprimore os seus sentidos. Se quisermos resolver os problemas de hoje, precisamos observar o Brasil de hoje, e não a Inglaterra ou os Estados Unidos de ontem, e aplicar soluções a problemas que não nos dizem respeito.
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