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Sem Porta-Retratos Nem Post-it


Por Rafael Sigollo

Por estratégia de gestão, pela natureza do negócio, por contenção de gastos ou até por falta de espaço, cada vez mais empresas de tamanhos e setores variados estão demolindo paredes, abrindo salas e aderindo ao modelo de mesas compartilhadas para seus funcionários.

Não ter uma estação fixa de trabalho, "um cantinho para chamar de seu" dentro da empresa, pode causar estranheza. Os gestores que adotaram esse sistema em suas equipes, no entanto, garantem que tudo é uma questão de adaptação - e que os benefícios são muito maiores do que os possíveis transtornos.

Geralmente, cada funcionário ganha um telefone celular e um notebook da companhia. Ao chegar, basta "plugar" o equipamento em qualquer um dos terminais espalhados pelo escritório em grandes mesas sem divisórias e começar a trabalhar. Os profissionais possuem apenas escaninhos individuais para guardar os eletrônicos, além de alguns poucos papéis e objetos pessoais.

Para o professor de gestão de pessoas, cultura empresarial e psicologia das organizações do Insper, Marcus Soares, a mobilidade que a atual tecnologia oferece faz com que as configurações dos ambientes corporativos sejam cada vez mais diversificadas. "É notório que presença física não determina produtividade. As companhias precisam ser não apenas flexíveis, mas também mais horizontais em suas hierarquias", ressalta. Nesse sentido, diz Soares, a ausência de lugares fixos é bastante vantajosa. "O relacionamento entre gestores e subordinados se estreita e, consequentemente, melhora. A confiança mútua facilita o trabalho a distância quando for necessário", diz..

A consultora de recursos humanos Jacqueline Resch, da Resch RH, afirma que a cultura da empresa precisa respaldar esse sistema tendo, inclusive, gestores preparados para lidar com ele. Isso porque, uma vez que as pessoas ficam espalhadas pelo ambiente corporativo, os líderes devem ficar atentos para estimular a coesão e a criação de uma identidade para suas equipes que vai além da tradicional proximidade física. "Reuniões, feedbacks e diálogos frequentes são úteis nesse processo. Isso já é uma realidade, por exemplo, em multinacionais que têm colaboradores que precisam trabalhar juntos, mas estão em países diferentes."

Consultorias e auditorias também já estão bastante acostumadas com mesas de trabalho compartilhadas. O grande número de profissionais alocados em clientes fez com que as companhias desse segmento adaptassem suas estruturas para diminuir a ociosidade nos escritórios. "A otimização dos recursos é essencial e a natureza do nosso negócio exige isso. Os funcionários passam boa parte do tempo fora da empresa e estão acostumados a não ter mesa própria", explica Adriana Zanni, diretora de recursos humanos da KPMG no Brasil.

Louise da Silva, supervisora sênior da KPMG, confirma. Há mais de cinco anos na auditoria, ela garante que prefere a rotatividade de lugares a ter uma estação fixa para trabalhar - experiência que viveu na época em que atuava na indústria. "Não tenho rotina e isso me faz lidar melhor com situações e pessoas diversas. O mercado é dinâmico e é preciso responder rapidamente, ter praticidade e a cabeça aberta", diz.

Cristiano Rosa, headhunter e professor do curso de gestão em recursos humanos da Veris IBTA, acredita que o modelo ajuda também a aumentar a produtividade. "Além da facilidade de poder trabalhar de qualquer lugar, a pessoa não acumula papéis nem procrastina tarefas. Tudo é resolvido mais rapidamente."

Antes de derrubar paredes e decretar "liberdade", no entanto, a empresa deve refletir se tem uma cultura aberta para a inovação e quem poderia se beneficiar com isso. Embora seja a favor das mesas compartilhadas, Rosa admite que em áreas como a financeira e a jurídica a implementação dessa política pode ser mais difícil, pois elas exigem mais silêncio, concentração e lidam com questões sigilosas e documentos confidenciais. Jacqueline Resch ressalta que o aspecto itinerante pode não ser recomendado também para o departamento de recursos humanos. "Esses profissionais são prestadores de serviço internos e precisam ser facilmente encontrados por toda a corporação", diz.

Na Philips, porém, isso não é problema. Conhecida por fabricar produtos eletrônicos, a empresa decidiu reposicionar sua marca e se tornar também uma grande provedora de soluções na área da saúde e bem-estar. A mudança para outro prédio foi determinante para que o novo objetivo fosse assimilado mais rapidamente pelos funcionários.

Na nova casa, decidiu-se pela eliminação total de salas e lugares fixos. "Esse formato favorece a agilidade, a integração e a comunicação dos nossos colaboradores. Eles passam a ter uma visão mais ampla, que cobre de ponta a ponta do que está sendo produzido", explica Alessandra Ginante, vice-presidente de recursos humanos da Philips do Brasil.

A maior vantagem, de acordo com ela, é a possibilidade de abordar qualquer pessoa - do estagiário ao presidente - de maneira mais informal e direta em busca de conhecimentos específicos, soluções ou colaborações. "É mais do que uma política de portas abertas, pois não temos portas", brinca. Alessandra afirma que existem apenas sugestões de "vizinhanças". "Aproximamos departamentos que possam se ajudar e desenvolver sinergias. Isso é mudado de tempos em tempos, de acordo com a estratégia da companhia."

O diretor de operações da consultoria Human Brasil, Fernando Monteiro da Costa, concorda que é importante fazer combinações de acordo com as habilidades e competências de cada equipe para atender às necessidades das organizações. Ele próprio usa mesas compartilhadas em parte da consultoria. "Isso traz um aprendizado multidisciplinar e mais motivação. Do ponto de vista de carreira, no entanto, não significa 'job rotation', apenas uma realocação", diz.


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